segunda-feira, 19 de maio de 2008

9 milhões e oitocentos mil Euros

Quantia exata, a mim oferecida via e-mail. Segundo o remetente da correspondência, pretenso advogado, seu cliente sofreu um acidente e deixou essa quantia PARA MIM! E o melhor de tudo: o morto era da ARGÉLIA!
Para receber esses trocadinhos eu só deveria mandar meus dados para o tal advogado e, em 20 dias úteis, eu já poderia ser considerada milionária. Ah! Ele avisou que, depois que recebesse meus dados, tornaria a escrever, para NEGOCIAR a porcentagem que lhe era devida, por seus serviços. Justíssimo, pensei eu.
Li e reli a mensagem e diverti-me a imaginar onde gastaria essa fortuna. Sim, porque dinheiro existe para ser gasto, certo?
Todos os meus problemas estariam resolvidos num passe de mágica. E que mágica!
Em 20 dias eu poderia ser a mulher cuja conta bancária jamais chegaria no vermelho. Cheque especial? Em breve eu esqueceria o que é isso.
Pensei na casa que eu daria para meus pais, nas viagens que faria com minha filha (uma volta ao mundo, não em 80 mas em 800 dias, sem a menor pressa), nos livros que publicaria (muitos, todos juntos - pagando bem, qualquer editora põe o teu livro no mercado). Ajudaria meus irmãos e sobrinhos. E, milagre dos milagres, seria a mulher mais disputada da região, para desposar.
Um ataque de riso me trouxe de volta à realidade. Olhei minha filha, que dormia serenamente. Ouvi os passos do meu pai, perambulando pela casa, como em todas as madrugadas. Pensei no valor do aluguel da casa onde moramos. No preço da escola de minha filha, nos ônibus lotados que tomamos, faça chuva ou faça sol, todo santo dia útil. Pensei no meu emprego,nas incomodações, nas frustrações, nas angústias e nas alegrias. Um frio percorreu-me a espinha quando lembrei da minha conta bancária. E das viagens que provavelmente jamais farei.
Levantei, cobri minha filha, beijei-lhe a testa amada. Agradeci.
Deletei a mensagem, única e exclusivamente por não saber que tipo de dados deveria enviar, se de plástico, de pano, de esponja, se com figuras, números, pontinhos...
NOTA: Tive necessidade de escrever a respeito devido ao grande número de mensagens desse teor, que têm chegado a mim, quase que diariamente. Já as consigo reconhecer, inclusive antes de abrir. Aliás, já recebi de tudo um pouco, desde aviso de corte de linha telefônica que eu nunca tive, até ameaças de morte e fotos de namorado beijando outra (essa eu até abri - poderia ser verdade! -, mas o anti-vírus não deixou...).
As mais freqüentes, no último mês, foram essas de herança ou de sorteio do endereço de e-mail, que me rendem milhões e milhões de Euros - sempre EUROS! - .
AH... SE FOSSE VERDADE.....