segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Entre a palavra e o silêncio

Tem vezes que só o que eu quero é calar. Não brota de mim um único verso; sequer um verso amargo. Nada. Nenhum frase que se aproveite. Nenhuma palavra que provoque outras ao grito. Nenhum desejo de dizer. O silêncio, então, é meu companheiro, e mergulha comigo numa mudez severa, quase doída, completamente doida, daquela doideira que os outros consideram normalidade. Porque a minha palavra é louca. E quando ela cala, eu até pareço igual aos que me cercam: o orvalho me molha, a chuva me molha, o suor me molha. Quando ela fala, eu sou outra, eu não existo: a água me adormece, o calor me atiça, o tiro me aviva. Quando a palavra me fala, sou qualquer coisa que triunfa, n'algum ponto que ninguém desvenda, porque não encontra, e não encontra porque está perdido entre as folhas amareladas do livro da minha vida. A mesma vida que de vez em quando se dá o direito de calar, e, por instantes, se acreditar parte d'algo maior, té que a torrente de vocábulos exploda de novo e me obrigue a abraçar minha assumida sina: a solidão completa...
Aos 49 minutos do dia 28.09.09