sábado, 6 de agosto de 2011

Twitter

Cá entre nós, que ninguém nos ouça: nunca acreditei nessa história de um milhão de amigos.



Nada sei sobre os criadores do Twitter e suas intenções. Nem quero saber. Meu negócio é ir escrevendo, por lá, e observando como se comportam as criaturas (eu, inclusive) que convivem, ou tentam, naquela terra sem dono e sem lei...
Como em todas as minhas publicações, quaisquer que sejam os domínios, não costumo ter muita censura. Escrevo o que penso e o que considero importante no momento. Imagino que assim ajam as outras pessoas também.
O que me diverte e, de certa forma, preocupa, é o desespero de alguns, por quantidade. Parece que o único objetivo é acumular seguidores. No caso dos artistas, músicos e outros que tais, até concordo com a meta, partindo-se do pressuposto de que um maior número de seguidores faz com que as vendas do produto também sejam maiores, assim como a divulgação do trabalho. Os fãs/seguidores ficam sabendo mais rapidamente quanto, como, quando e onde comprar. Compreensível. Mas...
... e todo o resto, composto de reles mortais (nós!)? Pra que seguir/ser seguido por milhares de pessoas? Busca desenfreada de que? Além do mais, quem usa sabe que é impossível acompanhar todas as postagens de todos os "seguidos", quando se tem milhões na lista. Fora que alguns ficam completamente desesperados quando UM seguidor os ABANDONA!! Unfollow é palavra maldita. Que grande lástima, meu Deus!!!!
E as brigas? Quando as pessoas discutem, costumam ameaçar: "Vou te dar Unfollow, heim?". Interessante que se brigue com quem não se sabe QUEM ou O QUE é,  sequer se usa o nome verdadeiro. No entanto, as discussões costumam ser acaloradas.
Eu rio, enquanto, calmamente, me reservo o direito de seguir e deixar de seguir quem eu quiser, a hora que achar conveniente. Direito estendido aos meus seguidores, é claro.
Até por que, cá entre nós, nunca acreditei muito nesse negócio de ter um milhão de amigos (amigo de verdade é jóia rara... preciosamente rara... anota aí, no teu caderninho de coisas para não esquecer).
Enquanto dou atenção aos poucos que tenho (de vez em quando, um ou outro "deserta" de mim), divirto-me, observando como convivem  essas criaturas, entre as quais me incluo, nesse mundo virtual, sem dono e sem lei...

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Acompanhantes de Luxo

Já escrevi aqui sobre os e-mails que recebi, dizendo que eu teria ficado trilionária, de uma hora pra outra, por conta de uma herança deixada por uma pessoa que eu jamais conheci, bastava que eu passasse todos os meus dados para o advogado do morto. Nada mais justo. Soubesse eu que tipo de dados (se de plástico, de paninho, ou o que), teria enviado. Como não sabia, deixei de ganhar milhões de euros. Paciência.
Eis que ultimamente minha caixa de correio tem ficado abarrotada de mensagens que me oferecem acompanhantes de luxo, de todas as formas, tipos, pesos, cores, sexos, e, imagino, sabores e cheiros. Mas quem disse que eu preciso de acompanhantes de luxo? Um só, bem chinfrim, já me seria suficiente! De luxo, nem imagino!
Como as tais mensagens não falam em nenhum preço específico, embora peçam o número do meu cartão de crédito, fico aqui pensando em termos de valores e na função específica de um acompanhante de luxo. Na verdade, eu precisaria de alguém baratinho, que me acompanhasse ao mercado, especialmente quando, na lista de compras, houvesse muitos ítens pesados. O acompanhante seria de grande utilidade para as minhas costas, afinal já não tenho 15 anos de idade, e, embora pretenda chegar aos 400, os meus 46 já não me permitem levantar todo o peso que aguento, nessas idas e vindas às compras.
Dito isto, fica claro que a parte do luxo não faz o menor sentido. Um acompanhante de smoking (claro que uma mulher não supriria minhas necessidades!), carregando minhas compras, chamaria muita atenção, o que iria contra as letras garrafais da mensagem: SIGILO ABSOLUTO. Ora, um smoking, de dia, no meio do mercadinho da esquina, e, ainda por cima, comigo, seria qualquer coisa, menos discreto!
O fato é que cansei desses e-mails. Nem leio mais. Não sei a razão de tanta insistência, mas ando pensando em responder. Vai que eles tenham um acompanhante mais normalzinho e, de preferência, por um precinho módico...

Motivação

Houve um tempo (os mais jovens não lembrarão, é claro; eram crianças, ainda, e estavam preocupados com bonecas e bolas de futebol) em que as palestras motivacionais estavam no auge. Eu gostava de todas elas. Fazia questão de assistir todas as que estivessem acontecendo por aqui. Saía delas renovada. Executava todos os exercícios sugeridos pelos palestrantes, verdadeiros animadores de platéia. Silvio Santos andava com medo de perder o cargo, segundo fiquei sabendo, de fontes fidedignas.
Acontece que, logo, logo, as tais palestras passaram de febre a vício. Em uma semana comecei a me dar conta de que o efeito escoava ralo abaixo, junto com a água do banho. Daí a necessidade de assistir a próxima. E se não tivesse nenhuma prevista, bah! Era um deus-nos-acuda! Até que houvesse outra, na cidade, eu ia mirrando, mirrando, mirrando, pra voltar a levantar só quando ganhasse outra injeção de "motivação".
Babaquices à parte, e tendo finalmente entendido que tudo isso não passava de uma grande besteira, mantive uma coisa que considerei muito importante, e que, desde então, me mantém segura do meu valor, independente do que pense o resto do mundo: meu ritual diário de beleza.
Não. Não tem a ver com pós compactos, máscaras de cílios ou batons desta ou daquela cor, apesar de eu gostar de tudo isso. Tem a ver com o que ninguém vê, que está muito abaixo da casca que a gente carrega, por mais bonita que ela possa parecer (ou não, mas isso é conversa pra outra hora). Falo da beleza que todos temos, da alma limpa, do coração puro, do bom caráter; coisas que deveriam ser normais mas que, infelizmente, são cada vez mais raras. Ora, essa beleza também tem que ser cuidada e alimentada e reforçada, todos os dias.
Depois que aprendi isso, posso até nem estar assim tão motivada pra fazer essa ou aquela atividade, ou até pra sair da cama em determinados dias, mas nunca mais esqueci que eu, apesar de qualquer coisa que possam dizer a meu respeito, tenho um valor muito particular, que ninguém, jamais, poderá tirar de mim.
Bom seria se todas as pessoas tivessem real consciência do seu valor.
O boom das palestras motivacionais se foi, e hoje eu não levantaria da cadeira pra participar desse tipo de encontro, mas a parte boa ficou. E é ela que carrego comigo. Vício, agora, só o de alimentar o que guardo que vale a pena, pra mim e para os que me cercam.
Motivação é um bichinho que mora dentro da gente e que precisa de cuidado. De ninguém mais, além de nós mesmos.

domingo, 3 de julho de 2011

Réstia de luz

Impressionante como um tantinho de luz faz bem à vida da gente. Hoje, especialmente, em que não estou, digamos, num dos momentos mais alegres da minha vida, a presença do Sol é capaz de fazer milagres. A previsão meteorológica para hoje era de neve, dado o frio que nos castigou nos últimos (10000?) dias. No entanto, presente de um Deus misericordioso, o Astro Rei deu a graça de sua presença, iluminando o dia, o céu e a alma da gente.
Não se iludam, meus queridos e fiéis leitores: ele não apareceu com força total, nos levando a tirar todas as roupas pesadas e desfilar com shortinhos e sandálias de dedo, não! Aliás, nem quente ele veio. Apesar desse calor-frio (sim, é possíve!l), só a claridade já me enche de um ânimo, uma vontade de "continuar", que eu pensei que voltaria apenas com a chegada do verão, portanto lá para o final de dezembro. Mas cá está ele, me trazendo "esperança".
É. Luz e calor fazem uma falta danada. Posso viver sem um amor (ok, sem um namorado "oficial"), mas, definitivamente, sem Sol nem eu, nem ninguém, consegue ir muito longe. Há estudos que comprovam o quanto o calor influencia no humor da gente e na chegada e permanência da depressão. Pessoas que vivem em lugares frios são mais "fechadas" (basta uma olhadela rápida na população da minha região, pra se perceber logo a diferença entre nós e os cariocas, isso sem citar as pessoas de outros países, muito mais gelados que minha terra). Não quer dizer que sejam melhores ou piores que os outros, apenas quenão são tão soltas quanto quem vive debaixo do Sol, quase todos os dias do ano.
A vantagem do frio é que ele é, inegavelmente, elegante. Além disso, os insetos somem, no inverno, e não sentimos nem um pouco a falta deles. Minha bronca é contra o frio intenso. É esse, acompanhado de chuva intermitente e dias pintados de cinza, que eu não suporto. Vou ficando caidinha, caidinha, e, quando percebo, bato no fundo do poço da depressão profunda. Ah... certamente não é responsabilidade só do clima, esse meu estado de espírito, mas uma réstia de luz faz tanta diferença, e é tão maravilhoso quando o Sol dá uma rasteira na previsão meteorológica!
Agora estou pronta pra semana que se inicia. Com frio (muito frio!), debaixo de um Sol gelado, mas repleta de luz. É o que me basta. Por enquanto...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Do Medo

Conheço muito bem o medo. Por conhecê-lo tão intimamente, fico profundamente incomodada quando alguém confessa ter medo de mim, seja por esta ou aquela razão, quase sempre sem-razão.
Guardo coleções intermináveis de medos, de todas as formas, cores, tipos e tamanhos, além de um número cada vez maior de fobias, e sei o quanto isso tudo é capaz de sabotar a vida da gente. No entanto, assim como sabotam, também são eles, esses meus medos, que me constrangem a seguir adiante, por vezes encarando de frente situações bizarras, que fariam qualquer outra pessoa tremer nas bases.
Pois tenho tanto medo, que me obrigo à coragem!
Morro de medo do que não entendo, mas o que entendo me é fobia... Daí eu ser tão a favor das mudanças: apavora-me o sempre-mesmo, já que o entendo e reconheço. Mudar vem carregado de toda sorte de diferenças, o que me deixa insegura, trêmula e solitária, mas é menos assustador que o monstro do Igual.
Temo a solidão, mas é nela que escondo a matéria prima da minha Arte.
Temo estar desenvolvendo sangue da barata, mas tremo diante da possibilidade de haver sangue humano demais nas minhas veias.
Todos os dias da minha vida penso em desistir. Assim mesmo, simplesmente, como quem, de repente, decidiu que não valia a pena. Absolutamente todos os dias da minha vida me pergunto se, de fato, vale a pena. Na ausência de respostas, continuo, temerosa e covardemente. Mas continuo.
E não admito que alguém tenha medo de mim.
Não é certo temer o medo. E o medo sou eu.




14.06.2011 - 15h

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Do escrever

Escrever é dolorido. Ficamos completamente despidos, diante dos olhos curiosos e críticos, de toda sorte de gente. Despidos e deformados. Isso me encanta e apavora, ao mesmo tempo. Por mais que eu use de metáforas, sempre será o meu ponto de vista que estarei afirmando. É bom que seja assim. E não é. Mas é praticamente impossível não ser assim. E é praticamente impossível que meu ponto de vista chegue às vistas do outro exatamente como mora em mim.

Outro dia escrevi um texto que considerei emocionante, e uma pessoa que me é cara deu a ele um significado tão diverso do meu, inclusive torcendo completamente a minha intenção, que eu tremi. Será assim que se sente um escritor controverso? Só que eu havia considerado o texto em questão completamente inocente (!) e ele me foi devolvido com tom de desprezo e pouca valia...

Quem lê, empresta à palavra a sua própria vivência, diversa, inclusive por coerência, do autor; portanto, os olhos que dissecam o texto também o modificam, transformando-o à sua imagem e semelhança; não no quesito "valor", mas no "jeito de ver", na forma de entender, de decifrar o que foi dito; daí a mudança, que não invalida o dito, nem o entendido, mas acrescenta-lhe significados. O ato criativo não pertence mais ao autor, uma vez que cai nas mãos do leitor. A escritura é uma parte, talvez a menor delas, da criação. Todo o resto foge ao controle do criador.

Exposto, despido e deformado, o autor se submete ao olhar do outro, sem metáforas nem trapos nem tintas, a proteger-lhe a alma. A mesma sobre a qual o olhar alheio projeta a própria, igualmente despida e deformada. Criar é dolorido, tanto para quem escreve, quanto para quem lê o escrito.

E se...

E se isso, e se aquilo e se aquele outro, são conjecturas inúteis. Como seria o estado atual SE tais e tais coisas não tivessem (ou tivessem) acontecido? Só que elas aconteceram (ou não ) e, a maioria delas, por escolha minha, tchê!

Se eu tivesse dito o que queria, lá em 1982, o que seria diferente hoje? Nunca saberei. No máximo, dá pra sentir nostalgia de uma época em que se era criança por um tempo mais longo, e depois, adolescente, quando se sabia muito pouco, ainda, sobre a vida (não como agora, em que a infância está cada vez mais reduzida e a adolescência quase não existe, pulando logo pra vida adulta, cheia de problemas e responsabilidades, sempre antes do tempo, sempre antes...).  Mas as escolhas foram acontecendo, de um jeito ou de outro, e não há o que fazer sobre o que feito está. Agora as decisões são baseadas no que se quer manter, no que é realmente importante hoje. E algumas importâncias são maiores que a gente. E SE não fossem? Sempre haverá um outro SE... 

Se a primeira dança tivesse aberto espaço pra outra, que rumo teria tomado a minha vida? Nunca saberei. 

Se eu tivesse passado no concurso do TRE, na fase da "datilografia" (quando ainda era imprescindível usar máquina de escrever, e computador era coisa de filme de ficção científica), talvez estivesse morando em Porto Alegre, sozinha, aos 20 anos, e toda a minha história fosse outra. Nunca saberei.

Se eu tivesse casado com o primeiro namorado, mesmo sabendo da sua homossexualidade, por quanto tempo eu estaria bem resolvida? Nunca saberei.

Se tivesse tido uma penca de filhos,
se não tivesse tido filhos,
se escolhesse outra profissão,
se tivesse um milhão de amigos,
se não tivesse nenhum,
se fosse mais flexível,
se tivesse votado,
se soubesse dançar,
se falasse inglês,
se fosse afinada,
se fosse desleal,
se fosse cordata,
se nem tivesse nascido,
se soubesse mentir,
por quais caminhos tudo isso me levaria? Nunca saberei.

Por isso, não gosto de conjecturas. Já sonho demais com um futuro provavelmente impossível. Que razão tão forte me faria sonhar, também, com um passado que não posso mais mudar? Sim, as nossas escolhas dependem, em parte, das escolhas dos outros, é fato. Mas nunca saberemos o que teria sido SE tivéssemos optado por quaisquer das outras mil, espalhadas no leque das possibilidades, sempre que estamos diante de uma decisão qualquer, por mínima que pareça.

É isso! Ao preferir isto àquilo, todo o meu destino modifico, por menor que tenha sido o meu movimento e por menos que aparente interferir no que considero grande.
Independente de nós,  a vida segue seu curso. Isto, aquilo e/ou aquele outro vão acontecendo. Escolhas nossas, conscientes ou não.

Ter o poder de mudar aquele dia específico, há quase 30 anos, arrancaria de mim o que/quem me é vital, hoje. Daí a inutilidade do SE...



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tudo o que aprendi com meus ex (Capítulo II)*

Cosmólogo. Caiu no meu colo, feito estrela cadente. Tudo bem que, depois, voltou para a constelação de origem; deixou, porém, nas minhas saias, poeira de estrelas.
Cheguei à idade adulta sem saber que as estrelas são coloridas! Vergonha admitir uma coisa dessas, eu sei. Tão simples! Em qualquer Revista Superinteressante eu teria encontrado essa informação. Acontece que enxergamos apenas o que nos interessa, ainda que sempre tenha estado diante do nosso nariz. Pois pra mim as estrelas eram aquelas pontinhas brilhantes, prateadas, que estão sempre lá, mas que só aparecem de noite, porque o sol permite, pra elas não se sentirem deixadas de lado.
Impossível descrever meu espanto, quando ele me disse que as estrelas tem as cores do arco-íris! UAU! Fiquei tão emocionada, que chorei (ele chorou também; hoje penso que foi por ter descoberto o tamanho da minha burrice).
Era início de ano, possível ver direitinho o céu estrelado, quase todas as noites. Ficávamos horas, ele tentando me mostrar as constelações, e eu tentando vê-las (não consigo, até hoje, vislumbrar aquelas formas todas, mas acho o máximo saber que alguém consegue). Pura magia.
Comecei a pesquisar, feito doida. Poemas e canções  (tem um mundo, sabias? uma mais linda que a outra!) sobre estrelas, matérias sobre estrelas, as super novas, as mortas qu'inda brilham (como a lembrança que guardamos dos que nos foram caros; foram, mas o brilho permanece indefinidamente), as distâncias, a forma arredondada.
Levei para meus alunos e para minhas colegas. Baseei todo o meu trabalho de alfabetização no tema (mas isso é assunto para o blog sobre minhas práticas pedagógicas pouco convencionais). Minha turma de primeiro ano ensinou tudo o que sabia às turmas de quinta e oitava séries, e enfeitamos a escola, com estrelas de papel, redondinhas e coloridas, como as reais.


Muitos anos depois, as estrelas (as vivas, as recém mortas e as mortas há séculos) ainda estão lá, colorindo minhas insones madrugadas. A importância disso tudo brilha numa delas. Com certeza.





** Os capítulos não obedecem ordem cronológica

Tudo o que aprendi com meus ex (Capítulo I)*

Eu tinha um computador, comprado com o maior sacrifício. Ele tinha uma gráfica, e vivia grudado nos computadores. Nos finais de semana eu ia pra lá (na cidade vizinha), e mais acompanhava o trabalho dele, que namorava...
Algumas coisas a gente não faz ideia, no exato instante em que acontecem, do quanto nos serão úteis. Lembro que, na época, eu me sentia deixada de lado, ainda que essa não fosse a realidade. Ele trabalhando, eu jogando.
Em casa, meu IBM Aptiva servia só pra digitar meus trabalhos da faculdade e jogar Paciência. Era, basicamente, uma máquina de escrever, bonitinha. Internet? Que bicho é esse? É de comer? É de vestir? Como se pronuncia?
Pois foi com ele que aprendi que computador tinha outros joguinhos, também (!). E me apaixonei por Mahjong. Ficava horas jogando, enquanto ele trabalhava.
Aos poucos, com o incentivo e quase exigência dele, me atrevi a fazer outras descobertas. Ele fez  a besteira de dizer que eu poderia fuçar à vontade, já que não era bem assim pra estragar um computador. Ensinou-me a navegar, coisa que eu, então, achei a maior idiotice da face da terra. Todo empolgado, tentava me mostrar a quantidade de informações que estavam disponíveis a quem tivesse vontade de acessá-las, e paciência suficiente pra suportar as constantes quedas (Internet discada, lembram?), e aquele barulhinho insuportável de antes de conectar: um misto de chiados e zumbidos altos, depois da discagem. Odiei, mas como boa namorada queridinha que sempre fui (eu sou um amor, juro!), ouvia tudo e tentava entender. Valia a pena.
Comecei a explorar meu IBM. Já não me era suficiente o Word. Queria mais. Paciência perdeu a graça; Mahjong perdeu a graça. Já não me era suficiente limitar-me aos programas do meu computador e seus 8MB de memória (O que? Era um monte, tá?).
E de repente, num piscar de olhos, eu era uma pessoa conectada com  o mundo!
Os dias eram outros.
Meu velho IBM foi doado (... se revoltou, tadinho. Não suportava tanta informação...).
Eu continuei conectada, até hoje.

O namorado? Passou... Mas a herança foi boa. Ô!




* Um Capítulo pra cada aprendizagem, o que não é o mesmo que número de namorados, atentem.
** A série pode ser tão longa, que vire livro...hehe... talvez...rs

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Crônica/Carta

Hoje tive uma grata surpresa: reencontrei minha filha virtual, Luzinha. Chorei, de alegria. E fiquei me perguntando como é possível a gente gostar tanto assim de alguém com quem nunca se esteve, de fato.

Os amigos virtuais não estão pertinho, e faço questão de citar aqui os que amo há anos (e não foi da noite pro dia, nem com uma conversinha superficial que me apaixonei por eles. Foram horas a fio, de longas conversas, sobre os mais diversos assuntos). Naldo, que a poesia me trouxe, e que já morreu de rir dos sanduíches enormes, que eu costumo devorar toda hora. Fabi, meu irmãozinho querido, que não acredita em amizade verdadeira dos outros; na minha ele acredita (e diz que não, pra ver). Roberto, que um dia ganhará o Nobel da Literatura e com quem aprendo muito. Cadu, meu "careta" preferido, que será pra sempre meu louco amor, graças ao Teatro Mágico. Aliás, o Teatro Mágico (sim, essa "trupe" mesmo!) me trouxe outros amigos maravilhosos: Tiago, meu pequeno príncipe dos laranjais, o mistério personificado e com certeza o homem mais decente que já conheci; Luzinha, minha filha virtual, suave e sonhadora; Re, a ovelha incandescente, inteligente até não poder mais, sangue quente, que eu adoro; Mari, a profe menina, de Imperatriz.

Sim, é possível construir uma história longa, bonita e verdadeira, com quem nunca se viu e, ainda que nos percamos de vista, de vez em quando, por esses hiatos da vida real, ela, a própria vida, dá um jeitinho de nos aproximar de novo. Porque História é algo precioso demais, pra se perder por aí.

Naldo, Fabi, Roberto, Cadu, Tiago, Luzinha, Mari e Re, o tempo vem provando que laço, real ou virtual, exige Verdade (falei isso para um novo amigo, hoje; amigo esse que, espero, chegue a ser, um dia, tão próximo de mim quanto vocês). Que bom que a gente tem sabido manter esse laço.

Amo vocês!

Sofrer é perda de tempo

Tem muita gente que não sofre mais. Minha amiga, Regiane, é uma. Eu sou outra.

Não tenho mais paciência, e, confesso, nem tempo útil, pra ficar me derramando em dores, por algo que não tem volta. Amores existem pra serem livres, e é natural que, lá pelas tantas, um dos dois resolva alçar voo e conhecer outras paragens, sozinho. Ninguém gosta de ser aquele que ficou, é óbvio. Mas, daí a perder meses choramingando, ou mesmo dias, quebrando a cabeça à procura do que se fez de errado, querendo saber o que "ela tem que eu não tenho", porque ele não me amou o suficiente, porque eu não fui a primeira e inquestionável escolha dele, não, né? Foi-se o tempo...

Acontece que o sofrimento não se restringe às relações amorosas. Ele vem embutido nas preocupações do cotidiano, nas eventuais desavenças com amigos, na falta de dinheiro, na inconstância da vida. E é aí que eu aprendi a me agarrar: na inconstância de tudo. Lulu Santos, que eu adoro, cantaria: "Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo; tudo muda, o tempo todo, no mundo!" e, se muda, com que cara a gente vai querer que as coisas não nos surpreendam? E se existem surpresas boas, porque não haveria as ruins? Não gostar é uma coisa. Sofrer é outra, bem diferente. Gastar tempo sofrendo é uma terceira, e é essa que eu cortei da minha vida. Chega.

Hoje, faço tudo o que estiver ao meu alcance, pras coisas darem certo. A minha parte está feita. E caprichadinha. Se não deu, paciência. Os olhos de fora querem ver como conformismo? Que seja. O fato é que me sinto mais feliz e bem resolvida, assim. Não preciso mais guardar mágoas, nem disfarçar os olhos inchados, nem recuperar o tempo que perdi, arrasada, porque isso ou aquilo não correu conforme eu pensara. Aos 45, descubro que nada é conforme o que se pensa. Absolutamente nada. E é muito mais comum as coisas darem errado, que certo, porque há inúmeras variáveis, qualquer que seja o assunto.

Não sou assim tão pessimista, embora já tenha sido menos. Apenas vejo tudo com outros olhos, hoje. Talvez eu tenha perdido, sim, uma parte importante de doçura, que já tive, ou o saltitante entusiasmo, que, durante longos anos, me foi característico. Ganhei, com essa perda. Ganhei um tempo precioso e um pé e meio, no chão (afinal, embora o entusiasmo não seja mais assim tão saltitante, ainda me habita), desde que decidi não sofrer mais. Nem por mim (porque sou maior e melhor que qualquer motivo que me provoque dor), nem por ninguém.

Eu disse, outro dia, e repito, cada vez mais consciente de que isso é verdadeiro, sim, pra minha vida: O que não me mata, não me deixa mais forte; me deixa invencível.

Tem gente que não sofre mais. Eu sou essa gente.

Não quero enriquecer

Sabes aquela gente que quer te enriquecer a todo custo? Mas e se eu simplesmente curtir essa minha miséria? Esses caras não entendem que eu não quero morar numa mansão, não tenho a menor necessidade de ter um carro importado que nem foi lançado ainda, não estou nem aí pra cruzeiros (aliás, enjoo pacas, em barquinho, imagina num naviozão daqueles, tchê!), não quero nem saber de entrar numa loja e ir comprando tudo o que me der na telha, sem nem perguntar o preço, nem me passa pela cabeça ter, em casa, as obras dos meus escultures, pintores, músicos, escritores, preferidos.

Essa coisa de ter grana não está com nada. Os tais que vivem mandando torpedos pro meu celular, querendo que eu vá retirar o carro ganho nas promoções nas quais nunca me inscrevi, não entendem que meu negócio é suar; contar as moedinhas, do começo ao fim do mês; ficar namorando determinado objeto de longe, porque não tenho cacife nem pra chegar perto da vitrine, quanto menos adquirir o "bichinho"; morrer de vontade de conhecer Paris, e catar imagens da cidade, no Google, pra sonhar, feliz.

Que graça tem ir correndo receber os milhões que só falta ter o número da minha conta, pra que sejam meus? Assim tão fácil? Ah... assim não tem graça! Bom mesmo é ir juntando tostão a tostão, abrir uma poupança pequerrucha e saber que ela jamais vai crescer. Divertido de verdade é jogar na mega sena e acreditar que dessa vez, vai. E não ir. Isso é que é bom! O resto é bobagem.

Por isso, caras pessoas de bom coração, que insistem em me enriquecer, por favor, desistam. Sou turrona, gosto de passar trabalho, de ir de ônibus até meu "serviço", de ser uma eterna funcionária pública, de ter conhecido no máximo cinco cidades, além da minha, de ler e-books grátis, e levar minha filha pra jantar fora só uma vez por mês (sempre no pagamento).

Desistam. Não gastem tempo, lotando minha caixa de mensagens, com essas, que vocês consideram boas notícias. E devem ser mesmo, pra maioria das pessoas. Pra mim, que gosto de ser pobre, que tenho paixão por tudo o que o dinheiro não compra, essas histórias só gastam minha beleza já tão pequena. Melhor: quando eu ganhar de novo (e tenho uma surpreendente sorte nessas coisas nas quais nunca me inscrevi), transfiram todo o prêmio para os nomes de vocês mesmos. Estou publicamente dando-lhes permissão para tal (e o que se manifesta na Internet, fica pra sempre). Dividam o prêmio, rasguem ou queimem o dinheiro, ajudem uma velhinha, enriqueçam alguém mais ambicioso. Eu, não. Eu gosto mesmo dessa minha pobreza.

Madrugar





Minha irmã disse, essa semana, que meu fuso horário é outro. Pretendeu ser uma piada, mas desconfio ser a mais pura realidade. Sim, eu madrugo. Enquanto meus iguais deitam as cabeças nos travesseiros macios e mergulham num merecido descanso, eu desperto. Mereço o descanso, também, diga-se de passagem, mas o meu só chega quando os outros estão levantando, para sua lide diária. Aí é que eu deito. Madrugo.

Madrugo, porque as madrugadas me ganham. Elas e seus profundos silêncios. Elas e suas criaturas misteriosas, plenas de perguntas, sedentas de tudo, secas de nada. Madrugo, porque a escuridão é uma espécie de luz ao contrário, que me inflama de vontades, as mais diversas. Talvez, de todas, a mais importante seja a vontade de escrever. De expressar o que é praticamente inenarrável, em poemas quase sem pé nem cabeça, ou talvez poemas centopeicos, com sete cabeças, não sei...

Se rabisco ideias e pensamentos durante o dia, é nas madrugadas que eles tomam corpo e viram taça de vinho. O maior dos milagres. Quase tão grande quanto o milagre da vida: dar corpo a um pensamento e dele embriagar-se.

No entanto, de fora, acostumados ao fuso horário local, eles, os outros, entendem como preguiça o sono que chega no início da manhã. Não interessa se a noite foi fértil, se exigiu esforço, se produziu parte da obra de uma vida inteira. Interessa, isso sim, que eu durma, enquanto o mundo (esse ao qual pertenço) começa um milhão de afazeres. E as vozes repetem a ladainha de sempre, a mesma que cobra ritmos e horários iguais para todos. Uniforme.

Alheia (pero no mucho) ao reboliço provocado, recolho-me à minha insignificância justamente quando eles, os outros, acordam para a vida. E sempre vou pela sombra, já que é nas sombras que habitam meus verbos mais preciosos. Os mesmos que matam-me a gana de dizer: meu fuso horário é outro! E  que seja o que tiver de ser...

Madrugo.






quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"Facebook já destruiu 28 milhões de casamentos"

A matéria é de uma superficialidade de dar medo, como, aliás, a maioria das informações que nos chegam, seja por qual via for, e a qual assunto se refira. Tudo muito pingado, a síntese da síntese, da síntese, da síntese, e mesmo essa, resumida. Dois ou três parágrafos de um assunto mais do que complexo.
Não, nunca fui casada, mas, acreditem, tenho experiência com casamento (como isso aqui não é confessionário, e boa aluna que sou, usarei a meu favor a lição das informações superficiais...), e posso afirmar, sem sombra de dúvida: uma rede social não tem o poder de destruir relacionamento algum, a não ser que o casal ou um dos que o compõem (que tanto pode ser o homem quanto a mulher), já esteja há muito tempo fora do tal casamento, embora o corpo permaneça presente. Por vezes, o corpo, o espírito e até algum carinho. Mas não me venham falar que o casamento ia bem, que tudo estava às mil maravilhas, "até que o malfeitor Facebook apareceu, pra atrapalhar tudo", que, comigo, não cola, violão!
Ou um dos dois é propenso à infidelidade, ou o casamento (coloquemos todos no mesmo saco: namoro, noivado -ainda existe?-;qualquer relacionamento oficial e socialmente estável) já ia mal, e o cônjuge resolveu se aventurar por aí...
Essa sim, é uma explicação simplista? Ora! Depois EU é que sou ingênua!
Atribuir a responsabilidade pela separação de sei lá quantos casais a uma rede social é imiscuir-se de toda e qualquer culpa. Culpa, sim! A gente fica evitando algumas palavras, e fica repetindo o que ouviu: "ah... culpa é uma palavra pesada demais. Ninguém tem culpa de nada. Tem é responsabilidade!" Pois eu digo que, pra essa nossa hipocrisia, uma pequena parte de responsabilidade é da gente e a culpa é do outro: o outro, que pode ser um computador, uma rede social, um chat, o twitter, um site de compras, um vizinho malhado e exibido (quem mandou andar sem camisa, com aquela barriga de tanquinho? Não resisti!), uma vizinha gostosa e provocativa (com aqueles peitões e uma bunda à la mulher melancia, se oferecendo pra mim, ou eu pegava, ou seria chamado de gay!), a educação que a gente teve, a cultura machista, um bar, a rua, o amigo que fica botando pilha, o momento, a carência, as facilidades da vida contemporânea, a mídia, a falta do que fazer, o stress, o álcool, a depressão, a pressão, a necessidade de sentir-se sexy, a necessidade de conquista, a necessidade de sexo, a necessidade de carinho, a necessidade de ser "bom", a necessidade de fazer caridade (tadinha-o-, estava tão sozinha-o-, eu só quis ajudar e acabei me envolvendo), a idade da loba, a idade do garanhão, a idade da pedra, a chuva, o sol, o verão, o carnaval, a viagem, a solidão, a sensação de fracasso, o cansaço, a vontade de voltar no tempo, a vontade de liberdade, a vontade de poder, a vontade de ser igual, a vontade de ser diferente, a vontade própria, a televisão, o rádio, o cinema, a literatura, o cachorro, o gato, o periquito, a vida, meu Deus, a vida!!!!!!!!!
Ando cansada de tudo isso. Dessa falsidade toda. Dessa falta de vergonha na cara; não de "fazer" as coisas, mas de não assumir o feito e a culpa (isso mesmo) por ele. Ando cansada desse monte de mentiras.
Um site de relacionamentos não tem o poder de destruir nada que já não tenha acabado ou que esteja, há muito, em vias de. Esses 28 milhões (tenho certeza de que o número é muito maior) teriam dançado, de qualquer jeito.
Com ou sem Facebook, todos temos escolha, sempre. Podemos optar pelo sim ou pelo não. E viver muito bem com o que escolhemos. Se preferirmos usar uma rede social pra encontrar parceiros fora da relacão estável, que seja! Mas considero indecente e tremendamente "moleque" dizer que foi o Facebook... Tenha uma santa paciência! Escolha outro(a) pra fazer de idiota, tchê!

 
 
 
 
 
 
Pra quem quiser conferir a superficialidade da matéria, de onde extraí o título da crônica, basta clicar aqui: http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=9957

domingo, 23 de janeiro de 2011

Minha mãe conhece o mundo todo


 

Esta tarde, meus pais conversaram via MSN com uma de minhas sobrinhas, que está no Qatar. Mataram a saudade e a preocupação, naturais, quando quem se ama está fisicamente tão longe. Lá pelas tantas, minha mãe disse: "Eu também conheci o mundo inteiro: a Vendinha do Mel!". 


Pois a Dona Lina nasceu e adolesceu em Antônio Prado (RS), que se mantém pequerrucha até hoje (aliás, as duas: minha mãe e a cidade), e a tal Vendinha do Mel ficava longe de casa. Até dava pra ir a pé, mas era uma "pernada" estrada afora. Mais negócio era ir a égua (quem tem cavalo, vai a cavalo; quem tem égua, vai a égua, oras!). O que se vivia no trajeto entre a casa dela e a Vendinha: os pedregulhos, a poeira, a chuva repentina, as carroças, os peões, os uniformes de colégio, as quedas e seus respectivos machucados, os vestidos, os cães, as dificuldades e a própria égua empacada, era o mundo da menina Lina.

Depois de tanta vida vivida, de tantas idas e vindas - de mudanças de cidades, de expandir seu mundo, extrapolar as fronteiras a partir da Lua de Mel (Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Sampa, Brasília) - aos 78 anos, judiada de Acidentes Vasculares Cerebrais, afirma, sem a menor sombra de dúvida, e com o brilho que ainda conserva no olhar, ter conhecido o mundo todo. O seu mundo, o que ela conservou e que teve real significado foi aquele, o da infância. 


Temo que a força do meu mundo seja praticamente nula, diante do dela. O significado do meu mundo sem fronteiras se perde no nada, já que a mim pertence tanto, e tão pouco em mim cabe.
Falta-me uma Vendinha do Mel, talvez um barulho de pedras pisoteadas, ou uma queda de carroça, no caminho da escola. Falta-me o significante perdido.

Talvez por isso me soe poesia, das mais simples e, daí, das mais sublimes, um mundo inteiro dentro de um Armazém, uma bodeguinha qualquer, que vende mel. Talvez ele adoce esse mundão sem fronteiras, e o açúcar empreste um tanto de sentido a minha corrida, que eu nem sei onde vai dar...


Qual é o tamanho do teu mundo? Onde ele está?