quarta-feira, 16 de julho de 2008

Carta

Lembra quando nos conhecemos? Eu lembro - parece que fomos amigos de infância, n'outra vida, certamente, porque nessa é que não foi, mas é como se tivéssemos sido de fato. E lembro do quanto me identifiquei contigo, desde o início. Tão inteligente, tu, que passo, até hoje, me deliciando com tuas tiradas, com essa tua sede de pesquisa, de busca, de saber, sem espaço para qualquer forma de cansaço. Não sabes o que é cansaço, quando se trata de 'conhecer'.
A primeira vez que nos falamos, estavas em Brasília. Também foi a primeira (e única) vez que disseste que te roubei a alma. Na ocasião não te contei, mas, no lugar da tua, deixei a minha. O frio que sentias era só pq a minha não era tão grande, a ponto de te preencher por inteiro. O espaço que faltava é que te provocava aquele tremor tão intenso. Ah, eu teria dado o meu dedo minguinho, à la Lula, só pra ver a cara do recepcionista ao ouvir minha voz. Parece que estou vendo os pensamentos dele, em letras garrafais, neon vermelho: "São horas de ligar pra alguém?" Brasília, naqueles dias, teve cheiro de MAR...
E quando pegaste no sono, bem na minha frente, eu falando e falando e falando e falando e falando, sem parar? Ah, não foi uma, nem duas vezes. É característica tua, particular (espero, sinceramente, que seja, já que o fato nunca tinha acontecido com ninguém antes de ti... se bem que... depois... ah, deixa pra lá...).
E fui apaixonada por ti. E houve um tempo em que o que te circundava teve uma importância enorme. E houve um tempo em que o que te circundava não tinha a menor importância aos meus olhos. E nos desentendemos diversas vezes. E já fui estúpida contigo. E já me incomodaste bastante. E já desejei que desaparecesses. E tenho certeza de que nunca desejaste o mesmo pra mim. E já rimos tanto juntos, que só de lembrar tenho ataques de riso. E já fomos um do outro, como nos foi permitido ser. E gastamos horas a discutir nossos sonhos.
Tu sabes da minha vida. Tu sabes dos meus problemas. Tu sabes das minhas dores. Eu sei de algumas tuas. Não todas. Principalmente essas últimas, das quais me poupas. Não precisa, mas fazes.
E marcas tua presença até hoje. Não me deixas esquecer que existes, mas eu não queria mesmo. E me ensinas mais tolerância, mais humildade, mais decência.
Não sei mais contar o tempo. Não sei quantos anos, nem meses, nem dias, nem horas, minutos ou milésimos de segundos que entraste na minha vida, pra ficar. Quem se importa com o tempo, quando se sabe que é pra sempre?
Obrigada por um dia teres escolhido estar na minha vida, de um jeito ou de outro, perto ou distante, com hiatos ou não, independente dos 'outros', sejam eles quem forem.
Obrigada por estares sempre disposto a me ouvir, por marcares presença, por me dares o prazer da tua companhia, ainda que seja rápida. Por gastares horas da tua vida ouvindo as minhas bobagens. Por dividires comigo teus insights. Por me ensinares tanto. Por seres essa pessoa maravilhosa que és. E por não precisares que eu te diga nada disso, porque sabes o que eu sinto. Obrigada pela tua lucidez. Pela tua coerência. Pela permanência. Pelo baita cara que eu tive a sorte de SABER.
"O MAR, quando quebra na praia, é bonito... é bonito..." (Dorival Caimmi)
16.07.2008 - 16h15min
(Vai que eu ganho. Dispenso o troféu. Prefiro a leiteira...rs)