sábado, 7 de junho de 2008

Sonho - uma crônica

Eu queria o direito de ser frágil. De não ser tão independente, de assumir que me dói essa independência pela qual, paradoxo dos paradoxos, luto todos os dias. Incansavelmente. E faço questão de manter.
No entanto, há em mim uma fragilidade abismal que, talvez, um dia, finalmente, me devore. Queria o direito de assumir que não sei sozinha. Que não consigo. Que não quero conseguir. Que não quero sequer tentar. Que não preciso sequer tentar.
Ser rocha, porto seguro, força e coragem, tem me desgastado tanto! Tem exigido tanto do que não tenho pra dar! Mas dou. Fabrico. Invento. Me viro. Rebolo. E todas as ações possíveis e imagináveis pra manter o que se chama, aparentemente, de segurança.
Tenho minhas próprias opiniões, ando de cabeça erguida, sou capaz de discutir qualquer assunto, troco lâmpada, gás de fogão, pinto parede, instalo chuveiro e, se facilitar, conserto encanamento. Interessam-me todas essas coisas. E também resolvo meus problemas sozinha. Decido sozinha minhas coisas. Quando muito triste, durmo. Quando arrasada demais, choro sozinha, de madrugada, pra ninguém ver, porque preciso ser forte. Porque preciso ser âncora. Porque os outros precisam de mim. Mas queria ter o direito de dizer que preciso de alguém que faça por mim, ou que, no mínimo, me ajude a fazer. Que me dê colo de vez em quando. Que esteja comigo, nem que seja em silêncio, mas ESTEJA ali, ao meu lado. Que não diga o que eu tenho que fazer, mas apóie minha decisão.
Ando cansada de não ter o direito de desabar. De dizer que preciso de ti, assim mesmo, muito simplesmente: EU PRECISO DE TI.
Só o que eu queria, hoje, aqui, era o direito de ser frágil. Ao menos uma vez.