terça-feira, 21 de outubro de 2008

Da violência

A violência? A violência é maldita. Melhor é a malemolência, que não faz mal a ninguém, apesar de começar com 'mal'.
A violência suga a alma, rasga a carne, provoca chuvas de água salgada no peito das gentes. A violência é maldita e malditos os seus dissidentes. Torno-me, eu mesma, violenta, contra a violência, tamanho é o poder dessa infeliz.
Varre a decência, escurraça a decência, cospe na decência, ela, a violência.
Toma conta de tudo à sua volta e não pergunta se é bem-vinda, por se saber sempre indesejada. Mas toma conta de tudo, mesmo assim, a maldita. E nessa conta, toma as vidas de quem amamos, toma os sonhos de quem amamos, toma os amores, toma até as dores, toma os créditos, toma os desejos e toma a alma, de quem amamos.
Ceifa vidas feito campo aberto.
Ninguém a segura. Ela, a maldita; ela, a violência.
E apesar de acreditarmos que amar é que vale a pena, violentamente desejamos que os violentos se danem. Eu desejo.
Talvez uma parte dessa violência que tanto maldigo esteja arraigada em mim, também.
Maldita violência!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A vida real

Existe.
E, um dia, tu estás andando na rua, ouvindo tuas músicas preferidas, passas por 'ele', olhas, constatas O fato, és correspondida, e segues teu caminho. No entanto, de repente, no instante seguinte, 'ele' está do teu lado. Tu não ouves o que ele diz, inicialmente, porque estás com os fones. Pensas ser mais uma alucinação. Aí tiras os fones. E 'ele' está falando contigo. De verdade. E é na vida real... The first life!
Então te dás conta de que a realidade é muito mais excitante que a fantasia. Ele sorri, te elogia, tenta ser gentil. Tu sabes que faz parte do jogo. Tu sabes o que ele quer. Tu sabes o que também queres. E sabes jogar muito bem.
E esta é a vida real...
The best real life...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

De como ganhar dinheiro sem trabalhar...

Impossível? Nada! Pergunte pra qualquer político... Mas não é de política que quero falar. Esse assunto está esgotado pra mim. Época de eleições? Chega do que estamos cansados de saber. Quero falar do que ocorre o ano todo, mas que tem me incomodado muito ultimamente, talvez porque eu já não seja mais tão paciente quanto há algum tempo.
Ônibus lotado. Hora do rush. Lotado de trabalhadores. Voltam pra casa cansados, encerrando mais uma jornada de trabalho. No fim da linha, ele entra. Um homem alto, forte, obviamente saudável. Dirige-se ao fundo do coletivo. Lá, tira uma pilha de pequenos retângulos de papel, onde estão impressas algumas linhas, um punhado de pirulitos em forma de coração (que coisa meiga!) e põe-se a distribuir um papel e um pirulito para os trabalhadores cansados, já descritos acima.
No papel, a seguinte inscrição: "Estou desempregado. Sou um pai de família, como você, e preciso me sustentar. Por favor, me ajude, ficando com esse doce e doando a quantia que você considerar justa. Aceito ticket refeição ou vale transporte". Pois esse indivíduo, depois de ter entregue o tal bilhetinho (mais parecido com desaforo), volta ao fundo do ônibus e começa a recolher de volta. Quem contribui fica com o pirulito, mas devolve o bilhetinho (afinal, ele será usado novamente, com outro otário, digo, cidadão de bom coração). Quem não contribui, devolve tudo.
E aí eu fiquei prestando atenção nessa pessoa. O tamanho dele é quase um constrangimento para que a gente doe mesmo. Tem gente que chega a 'doar' um Real. UM REAL! Por um pirulito! Sabem o que é isso? E, pior, para um cara que tinha força suficiente pra ser 'chapa' de caminhoneiro. Pegar no pesado mesmo! E não me venham dizer que não tem emprego; porque na minha cidade, quem quer trabalhar e não escolhe serviço, não fica desempregado. Acontece que é muito mais fácil ficar passeando de ônibus o dia todo, extorquindo os centavos suados dos trabalhadores, e, no fim do dia, contar a grana arrecadada SEM TRABALHAR!
Outra coisa: notaram que, no tal bilhete, não tem sequer um agradecimento? Ora, quem iria se preocupar com isso, não é?
Coitados de nós...
Coitados de nós...


09.08.2008 - 02h10min

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

O valor do meu voto

Época de eleições é uma beleza pra quem está com a auto-estima baixa. De repente, nos transformamos, nós, os cidadãos comuns, nas pessoas mais importantes da face da terra. De repente, somos reconhecidos nas ruas, toda hora alguém vem nos cumprimentar: apertos de mão, beijinhos, abraços 'sinceramente' carinhosos. E pensamos: puxa, quão doce é o sucesso. Chegamos a perder o ônibus para o trabalho, tanto tempo gastamos, dando atenção para tanta gente que nos aborda na rua. Mas não tem nada não, principalmente se nosso chefe também está com essa sede de 'nos reconhecer', e entregar aquele papelzinho com um número, uma sigla e a fotinho dele (coisa mais fofa). Se nos atrasamos dando atenção aos seus correligionários, tudo bem. Mas não esqueçamos que o voto de vereador é pra ele, ok?
Pois hoje estava eu no Shopping, tomando um sorvete com minha filha (está um frio de rachar por aqui, mas ontem fez calor e eu prometi que o sorvete viria hoje... criança não esquece promessa; talvez devêssemos aprender essa lição...), e lá vieram os dois candidatos, sorrisos perfeitos, apertos de mão firmes, cheios de amor pra dar. Coisa bonita de se ver. Pararam. Gastaram parte do seu precioso tempo comigo e com minha filha. Aliás, deram tanta atenção a ela, que cheguei a ficar comovida. As mães adoram que tratem bem suas crias. O interesse dos dois foi tamanho que quase os convidei para um cafezinho aqui em casa, com direito a faixa, carro de som e discurso; quiçá banda de música. Uns amores eles! Tanta peninha me deram, os dois cansados de tanto caminhar, angariando um votinho aqui, outro ali, outro acolá. Tadinhos deles... tsc,tsc...
Antes da comovida despedida, ainda ofereceram ajuda para qualquer coisa que eu precise, amanhã ou qualquer dia desses, mas de preferência depois das eleições, afinal devo entender que eles andam muito ocupados com essa história toda de campanha, né? Claro, claro que sim.
Fiquei observando enquanto eles paravam a dois passos de nós e abordavam, com o mesmo sorriso encantador, outros cidadãos, tão 'carentes' quanto eu. Minha cabeça fervia, fazendo as contas de quanto vale o meu voto. Ainda está fervendo... borbulhando... aliás, acho que vai explodir, cuidado!
Mas isso é assunto para mais tarde... Preciso encontrar uma calculadora primeiro, depois continuarei escrevendo a respeito...
NOTA: Quintana escreveu uma vez que não há nada mais encantador que sorriso de político, em época de eleições...




quarta-feira, 20 de agosto de 2008

No Estado Democrático de Direito...

... o cidadão tem o direito de saber que está sendo roubado. E por quem.
... o cidadão tem o direito de ver aqueles que o roubam, presos. Por um dia.
... o cidadão tem o direito de pagar impostos. Sem retorno.
... o cidadão tem o direito de reclamar, mas vai perder o próprio tempo.
... o cidadão NÃO tem direito a habeas corpus...

Só pra constar II

Tu tens uma coisa que eu não sei dizer. Tu provocas em mim uma coisa que eu não sei dizer. Tu arrancas de mim o que eu não sei dizer. Tu até me fazes ficar com vontade do que não ouso dizer. Tu terminas, vais embora, eu fico aqui, mas tu ficas também, mesmo tendo partido. E eu não sei dizer isso. Eu não sei como te fazer entender que continuas aqui. Que não foste desde aquela tarde. Que hoje vieste com mais força. Eu não sei. Mas tua respiração está colada ao meu ouvido. E tua pele está grudada na minha. E eu sinto o teu suor como nunca antes. E ainda te vejo tremer. Tu tens uma coisa que eu não sei dizer. Mas quero pra mim.



*Só pra constar.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Três momentos da minha infância




Tem coisas que a gente não esquece de jeito nenhum. Boas ou ruins, fazem parte da nossa história e estarão para sempre gravadas na mente. Gosto de lembrar alguns momentos que marcaram minha infância.
Nota: Brinquei de boneca até os 17 anos (a boneca mais famosa da época era a Susie e eu adorava fazer roupinhas pra ela – aliás, gosto de fazer roupinhas até hoje, mas finjo que é só pra agradar minha filha).

*Meu irmão era bem pequeno quando Sidney Magal estourou nas paradas de sucesso. O menino, então, subia no sofá da sala e imitava o ídolo, direitinho, com rebolados, caras e bocas. Dava vontade de morder aquele gurizinho de franjinha lisa, dançando e cantando Sandra Rosa Madalena, à la Sidney Magal....

*Morávamos perto de um estofaria, onde sempre sobrava espuma. Tiras de espuma de sofás que eram reformados. Pegávamos uma linha de costura da minha mãe e amarrávamos uma ponta na espuma e a outra no tornozelo.
Na casa onde morávamos tinha um corredor longo, que ficava muito escuro, se fechadas todas as portas. Íamos para lá e, depois que os olhos se acostumavam à escuridão, conseguíamos divisar só os vultos, uns dos outros. No chão, as espumas, que pareciam ter vida própria. Cobras, correndo atrás de nós! Dava um medo enorme, mesmo sabendo a verdade. Corríamos e gritávamos até cansar.

*Nos fundos da minha casa tinha um terreno acidentado, muito parecido com um precipício; era o que chamávamos, na época, de ‘pátio’. Também tínhamos o ‘caixão’; nome carinhoso dado à nossa televisão, que era muito grande e pesada, ainda em P&B, e onde assistíamos seriados como Perdidos no Espaço, Os Waltons, Bonanza, O Elo Perdido, Robinson Crusoé e outros tantos dos quais não recordo os nomes. Pois na hora de brincar, encarnávamos os personagens e aquele ‘pátio’ virava um grande cenário. Pois bem; precipitando-se sobre o precipício (sim, foi isso mesmo que eu quis dizer), tinha uma grande árvore, em cujo galho nos embalávamos, penduradas, uma de cada vez. Foi numa dessas que a minha vizinha, que brincava sempre comigo e com minha irmã avisou que queria parar de se balançar no galho, mas minha irmã continuou embalando, sem dar-lhe ouvidos. Ela não agüentou mais e soltou-se, rolando, precipício abaixo. Resultado: um braço quebrado e a primeira vez que meu pai bateu em mim e na minha irmã. Fugimos dele, nos escondemos debaixo da cama, e ele pegou a vassoura e batia com ela na gente. Detalhe: ele batia com o lado da palha, portanto, não doeu nadinha. Fingimos chorar. Quando ele saiu do quarto quase morremos de rir.




Brincávamos muito, criávamos milhões de situações, viajávamos nas asas da imaginação. Bons tempos aqueles... Bons tempos idos... Bons tempos...




(30.07.2008 - 15h30min)

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Relaxe e goze

*A famosa política, sexóloga, psicóloga, mãe do Supla e do João, ex-apresentadora de TV, ex-esposa do Eduardo Suplicy, ex-ministra, ex-prefeita, ex-mais um montão de coisas, Marta Suplicy, recomendaria que se relaxe e goze, diante da impossibilidade de evitar o que se odeia... Eu, como seguidora dos grandes sábios de toda a História, sigo o conselho dela, é claro.

Já repararam que tem coisas que a gente, apesar de odiar, tem a obrigação de encarar todos os dias, ou mais freqüentemente do que se gostaria? Não? Bem, aí vai uma breve lista de quatro coisas que fazem parte da minha vida, e que não tenho como evitar:

- ACORDAR PELA MANHÃ.
Não, caro leitor, não me refiro a dormir eternamente. Isso seria 'uma espécie' de morte. E acordar 'cedo' é uma tortura insportável. Mas falo de não poder dormir a manhã toda. Ora, eu gosto da noite, produzo mais à noite. Minhas idéias fluem o tempo todo, independente do horário, mas acontece que é à noite que consigo colocá-las no papel, organizá-las com cuidado, sem que ninguém me atrapalhe, sem correr nenhum risco de ser interrompida na parte mais importante de minha produção artística. E tenho paixão pelo sono da manhã. Se eu pudesse, levantaria nunca antes das 13h. Aí sim meu dia poderia começar.

- LAVAR AS GRADES DO FOGÃO.
Ô coisinha desagradável e desconfortável. Chata mesmo, de fazer. Machuca as mãos, se a gente, por acaso, estiver sem luvas. E todos os dias TEM que lavar aquelas porcarias, caso contrário ficam escorregadias, e podem acabar facilitando que as panelas caiam no chão... Além do cheiro, da craca, da gordura, que vai acumulando, caso se resolva, simplesmente, fingir que as tais grades não precisam ser lavadas...

-APANHAR O ÔNIBUS NA HORA DO RUSH.
Ônibus, pra começo de conversa, nunca, absolutamente nunca, é agradável. Tem que ficar no ponto, esperando, esperando, esperando. Se chegas antes, ele atrasa. Se atrasas 2 segundos, ele passou 2 antes. Se chegas na hora, ou esperas muito, ou já perdeste. Nunca dá certo. NUNCA! Pois na hora do rush a coisa piora. Acontece tudo isso e, quando consegues pegar o bichinho, ele está lotado. Gente como tu, trabalhadora, cansada, louca pra chegar em casa, detestando aquele empurra-empurra. Sim, caro leitor, minha cidade é pequena, mas os problemas são muito parecidos com os de cidades grandes. E o pior é que a gente não pode dar um tempo, deixar passar a 'hora' pra pegar o próximo, talvez mais folgado, porque alguém nos espera em casa, porque começa a escurecer (isso na volta para casa, porque na ida para o trabalho não dá mesmo pra evitar o rush, caso contrário, ocorrem atrasos no emprego, desconto no salário, incomodações aos montes), porque, porque, porque...Porque não compro um carro? Porque não tenho dinheiro. O pagamento é facilitado, qualquer um pode comprar um carro hoje em dia? É verdade, mas e a manutenção? E lugar pra estacionar? E o combustível? E a poluição (esse ítem é aqui mesmo, último da fila)?

- TIRAR O PIJAMA E AS PANTUFAS.
Fala sério: pra que vestir outro tipo de roupa e calçado? A gente dorme com aquela roupa quentinha e confortável. Tem que ser assim, caso contrário o sono não fica legal. Ora, porque é que a gente tem que, ao acordar, substituir o conforto pelo jeans? Mas, se chega visita de repente (falta de educação, aliás, partindo-se do princípio de que é de bom tom telefonar, antes de visitar qualquer pessoa), ou não tão de repente, como receber alguém, de pijama e pantufas? Eu quebraria de bom grado essas convenções (e faço isso, de vez em quando), mas, pra evitar que meus pais passem 'vergonha', afinal alguém que anda de pijamas e pantufas o dia todo - ao menos na minha região - é considerado um belo de um vagabundo (no sentido de não querer trabalhar, deixemos claro), acabo dando o braço a torcer e vestindo os famigerados jeans em casa... ai,ai,ai...

E tu, já fizeste tua listinha de quatro coisas que odeias e não tens como evitar? Relaxe e goze...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Socorro! Querem me enriquecer!!!!!!!!!

Já aconteceu antes e vem sendo cada vez mais freqüente. Alguém, em algum lugar do mundo, insiste em me enriquecer. Acontece que eu gosto de ser pobre de nascença e de 'morrença'.
Eu gosto de ter grana na minha conta apenas um dia por mês, o do pagamento. E de ficar curtindo esse dia, como o mais importante da minha vida, porque, no seguinte, não haverá mais nem um tostão na conta, partindo-se do princípio de que as dívidas têm que ser pagas, de uma forma ou outra, cedo ou tarde. Logo, a partir do terceiro dia do mês, minha conta estará mais lisa que sabão. Ô coisa boa!
Eu gosto das insistentes ligações do gerente do meu Banco (meu não, dos outros...), porque ele é a cara do Paulo Ricardo; lembram? aquele que canta "Loiras geladas vêm me consolar..."; esse mesmo! Eu adoro receber as ligações dele, me chamando para vê-lo. Não, não é encontro amoroso, é pra achar uma forma de fechar o rombo mensal que aparece na minha conta (rombo, aliás, maior a cada mês).
Eu gosto de ficar horas na parada de ônibus, todos os dias, de entrar nesses veículos coletivos na hora do 'rush' (sempre quis usar essa palavra, eis a oportunidade), de enfrentar filas intermináveis pra qualquer coisa, porque não tenho amigos influentes, nem conheço o gerente, o dono, o amigo do xerife.
Eu tenho o maior prazer de engolir toda sorte de sapos no trabalho, porque preciso do emprego. E adoro a sensação de abrir o contra-cheques sempre com aquele frio na barriga... todo mês a mesma coisa: rotina segura. Ô coisa boa!
Eu gosto do exercício diário de quebrar a cabeça pra achar um jeito de dar uma vida melhor e mais fácil pra minha filha. De proporcionar a ela todas as oportunidades que eu não tive.
Acho muito divertido entrar no supermercado e procurar as ofertas, olhar todas as vitrines de todas as lojas da cidade e descobrir que não posso ter nada daquilo.
Adoro sonhar com uma televisão gigante, de plasma, enquanto assisto CSI na minha televisãozinha de 20 polegadas, sem controle remoto, com uma antena que precisa de bombril pra funcionar, mesmo assim com um chiado que só vendo. Ô coisa boa!
Depois disso tudo dito, espero que esses que andam por aí, atravancando meu caminho (ops, perdão Quintana), querendo, a todo custo, engordar minha conta bancária, resolver todos os meus problemas, me ver morando em mansão com piscina e comendo caviar rosa, com meu pescoço lindamente ornamentado por um colar de brilhantes raríssimos, desistam de me oferecer tudo isso e escolham outra vítima, digo, outra idiota, digo, outra incauta, quer dizer, outra pessoa, de preferência que ODEIE ser pobre.
Porque eu... EU ADORO SER POBRE DE NASCENÇA E DE MORRENÇA!
(Depois de receber mais um daqueles mails avisando que me foram doados 78milhões de Euros... té parece....)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Carta

Lembra quando nos conhecemos? Eu lembro - parece que fomos amigos de infância, n'outra vida, certamente, porque nessa é que não foi, mas é como se tivéssemos sido de fato. E lembro do quanto me identifiquei contigo, desde o início. Tão inteligente, tu, que passo, até hoje, me deliciando com tuas tiradas, com essa tua sede de pesquisa, de busca, de saber, sem espaço para qualquer forma de cansaço. Não sabes o que é cansaço, quando se trata de 'conhecer'.
A primeira vez que nos falamos, estavas em Brasília. Também foi a primeira (e única) vez que disseste que te roubei a alma. Na ocasião não te contei, mas, no lugar da tua, deixei a minha. O frio que sentias era só pq a minha não era tão grande, a ponto de te preencher por inteiro. O espaço que faltava é que te provocava aquele tremor tão intenso. Ah, eu teria dado o meu dedo minguinho, à la Lula, só pra ver a cara do recepcionista ao ouvir minha voz. Parece que estou vendo os pensamentos dele, em letras garrafais, neon vermelho: "São horas de ligar pra alguém?" Brasília, naqueles dias, teve cheiro de MAR...
E quando pegaste no sono, bem na minha frente, eu falando e falando e falando e falando e falando, sem parar? Ah, não foi uma, nem duas vezes. É característica tua, particular (espero, sinceramente, que seja, já que o fato nunca tinha acontecido com ninguém antes de ti... se bem que... depois... ah, deixa pra lá...).
E fui apaixonada por ti. E houve um tempo em que o que te circundava teve uma importância enorme. E houve um tempo em que o que te circundava não tinha a menor importância aos meus olhos. E nos desentendemos diversas vezes. E já fui estúpida contigo. E já me incomodaste bastante. E já desejei que desaparecesses. E tenho certeza de que nunca desejaste o mesmo pra mim. E já rimos tanto juntos, que só de lembrar tenho ataques de riso. E já fomos um do outro, como nos foi permitido ser. E gastamos horas a discutir nossos sonhos.
Tu sabes da minha vida. Tu sabes dos meus problemas. Tu sabes das minhas dores. Eu sei de algumas tuas. Não todas. Principalmente essas últimas, das quais me poupas. Não precisa, mas fazes.
E marcas tua presença até hoje. Não me deixas esquecer que existes, mas eu não queria mesmo. E me ensinas mais tolerância, mais humildade, mais decência.
Não sei mais contar o tempo. Não sei quantos anos, nem meses, nem dias, nem horas, minutos ou milésimos de segundos que entraste na minha vida, pra ficar. Quem se importa com o tempo, quando se sabe que é pra sempre?
Obrigada por um dia teres escolhido estar na minha vida, de um jeito ou de outro, perto ou distante, com hiatos ou não, independente dos 'outros', sejam eles quem forem.
Obrigada por estares sempre disposto a me ouvir, por marcares presença, por me dares o prazer da tua companhia, ainda que seja rápida. Por gastares horas da tua vida ouvindo as minhas bobagens. Por dividires comigo teus insights. Por me ensinares tanto. Por seres essa pessoa maravilhosa que és. E por não precisares que eu te diga nada disso, porque sabes o que eu sinto. Obrigada pela tua lucidez. Pela tua coerência. Pela permanência. Pelo baita cara que eu tive a sorte de SABER.
"O MAR, quando quebra na praia, é bonito... é bonito..." (Dorival Caimmi)
16.07.2008 - 16h15min
(Vai que eu ganho. Dispenso o troféu. Prefiro a leiteira...rs)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Não dá mais? Dá, sim

De vez em quando, a vida passa uma rasteira na gente, só pra mostrar quem é que manda.
Vem um susto, vem uma conta de telefone astronômica, vêm os astros e dizem que o homem da tua vida é gay, vem o vizinho e espalha maldizeres a teu respeito, vem alguém que pensa que pode te enrolar fácil, vem uma lista interminável de problemas, de A a Z, todos com requintes de maldade extrema, pra cima de ti. Pois esta é a vida, querendo te passar uma rasteira.
De repente, todas as notícias envolvem desastres, desgostos, insultos, medos, métodos, trancas, papéis picados e queimados pra ninguém saber o que havia escrito neles, resultados de exames nem um pouco animadores e, pior, a incapacidade de distinguir quem é do bem e quem é do mal. Ai, que dor de cabeça! (Olha aí, mais um problema pra listinha já longa...).
Porém, nem tudo estará perdido, se te agarrares à única coisa boa que te resta na vida: a própria vida, oras! Ainda que doa, ainda que seja difícil, ainda que a solidão te devore e que os instintos todos te gritem que NÃO DÁ MAIS! Dá, sim!
Alguns dizem que rir é o melhor remédio, outros preferem beber, e outros, ainda, escolhem enfiar a cabeça no buraco mais próximo e nunca mais tirá-la de lá. Fico com a primeira opção. Eu rio. E rio porque esse rio leva a tristeza e a preocupação por água abaixo. Eu rio porque esse rio não me exime dos problemas que chovem sobre mim, mas a força da água me dá energia pra enfrentá-los. Eu rio porque sei que apesar de tudo, tudo se ajeita um dia, principalmente se eu fizer a minha parte. Eu rio porque o som da minha risada diminui o barulho das rajadas de metralhadoras e fuzis que vêm de outras cidades, que parecem distantes de mim, mas é lá onde moram meus semelhantes.
Eu rio porque morrer de rir é melhor que morrer de bala perdida (ou bem endereçada), a menos que seja um Halls....

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Palavra

Palavra é asa. Depois de proferida, voa e assume outras formas. Vira exatamente o oposto do que foi dito inicialmente. Vira magia ou sentença, dependendo de quem a cace, de quem a pesque, de quem a acenda.
Palavra é entendida além do significado estreitante. Tem mil sentidos, dependendo de quem a ouve, dependendo de quem a lê. Depois de plantada na folha, ai!, que dor que dá na gente, ver a palavra crescer e partir pra vida dela. A própria vida, independente de nós, seus primeiros sopradores.
As dores, as delícias, os sabores, tudo isso a palavra carrega consigo. Carrega inclusive os silêncios... shhhhhh....
Palavra é maldita até quando não nasceu pra ser. E assume ares de santa quando dita na hora exata, inda que seja na cama de um parceiro que nem se conhece, que mal se vê. Mas é bendita, então. Bem dita.
Palavra é religião. É sonho desfeito. É descrição de coisa séria ou engraçada. É companhia. É companheira. É salvação.
Palavra é coisa rara. Às vezes é manca, rasa, outras vezes é falsa, rasa, e outras tantas é copiada de terceiros, porque os primeiros não tiveram capacidade de dizer. Foram rasos. Voaram raso. Rastrearam a a palavra do outro. Rasuraram palavra alheia.
Palavra é invento sagrado. É pensamento concreto. É presente embrulhado em papel amassado, mil vezes lido, decorado. Palavra é o que não se deve prever. Porque, quando se diz, ela ganha asas, voa, e vira exatamente o oposto do que se pretendeu dizer...


Aos 35 minutos do dia 03.07.2008
*Porque a gente entende só o que quer entender... Ainda que o outro não tenha dito nada daquilo... A palavra tem asas... Deve ser...

terça-feira, 1 de julho de 2008

Linda!

Louca de pressa, ia quase saindo do supermercado, quando vi uma folhagem linda, à venda. Não resisti e parei pra olhar mais de perto.
Vocês não sabem, caros leitores, mas tenho mania de cantar e de falar sozinha, na rua... Não é exatamente sozinha. Falo comigo mesma. Penso alto, não sei, mas já foi o tempo em que me preocupava com o que os outros poderiam julgar de mim. Eu mesma, ao ver alguém falando sozinha, na rua, considerava, antigamente, que a pessoa era louca. Agora chegou a minha vez. E talvez eu não me importe, justamente por que sei O QUE as pessoas estão pensando. E estão certas. Eu sou louca mesmo, e daí?
Pois parei pra olhar a folhagem mais de perto, como eu ia dizendo, e em voz alta, exclamei:
-Nossa! Que linda!
Não vi que um desconhecido parara ao meu lado, senão quando o ouvi dizer:
-Linda!
Olhei pra ele. Teria, no máximo, 30 anos, talvez menos. Interessante. Estava tão perto que eu podia sentir-lhe o perfume. Sorri, e respondi:
-Pois é, e olha que coisa curiosa, eu estou morrendo de pressa, não poderia estar aqui parada, tenho mil coisas pra fazer e a beleza dessa planta me plantou aqui.
E ele:
-Não. Eu não estava falando da planta. Falava de ti.
Corei. Agradeci e fui embora. A vida segue...
No caminho, ri (falo sozinha, ouço música e canto, sozinha, rio sozinha também...), considerando aquela observação não como uma cantada, mas como um agradável comentário, que veio alegrar o meu dia corrido. Que bom. Ainda há homens delicados nesse mundo, que te oferecem uma taça de sorrisos, de vez em quando.
Louca de pressa, segui a vida, que não espera por ninguém...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Arte. Pra quê arte? Dinheiro. Pra quê dinheiro?

Dia chamado útil (todos os dias são úteis, quando se vive bem, mas o comum é considerar 'útil' de segunda a sexta). Final de tarde. Frio de rachar. Eu usava quatro blusas grossas, debaixo de um casaco comprido e cachecol. Ele estava no farol. Bermuda. Só isso ele usava. Era um rapazinho de seus 17, talvez 18 anos. Pés descalços. Arrepiado até à raiz dos cabelos curtinhos. Brilhantes olhos castanhos. Magérrimo. Alto. A pele totalmente coberta por uma tinta prateada. E malabares. Ele fazia malabares, no sinal.Parei numa vitrina e fiquei longos minutos observando o trabalho desse desconhecido. A apresentação durava o tempo do sinal fechado, e ainda era suficiente pra que ele recolhesse míseras moedinhas de quem o assistia de dentro dos carros. Depois ele sentava numa muradinha, e ficava passando a mão na pele arrepiada, até que o sinal fechasse de novo, e ele corresse para o meio da rua. E de novo exibisse suas habilidades. E de novo recebesse uns trocadinhos. E de novo esperasse pelo próximo sinal.Os pés descalços no chão gelado. O peito à mostra. Os ossos também. E os olhos. Ah, os olhos dele. E eu, discretamente, chorei, porque, afinal, ele era só um menino, garantindo algum dinheiro, talvez para a janta da família; quem poderia saber? Pensei em conversar com ele, mas não tive coragem. Ainda fiquei ali por um tempo, admirando uma arte que tinha o fim específico: o sustento. Depois fui embora. Mas a imagem dele veio comigo, e a pergunta também: arte pra quê? dinheiro, pra quê?


27.06.2008 - 11h21min

domingo, 15 de junho de 2008

Produção baixa

Passo por um período de transição terrivelmente árido. Faltam-me vocábulos suficientes, para expressar meus pensamentos, sempre muitos, sempre salientes, sempre vorazes. Minha produção baixou muitíssimo! Dos trinta textos diários, restaram doze ou treze, no máximo, a me brotar dos poros. O resto é vazio. Um enorme vazio, cheio de nada.
Ainda se houvesse uma palavrinha aqui, uma expressão curta ali, leve que fosse, ácida que fosse, cortada que fosse, eu conseguiria dar-lhe forma e sentido, a ponto de transformar o pouco nalguma frase a ser mastigada pela caneta.
Nada.
Se há nada, fica difícil preencher o vácuo da folha em branco, onde dança uma caneta azulada, a desenhar traços de mulheres nuas. Mas isso não é poesia! Mas isso não é arte! Mas isso não é produção que se apresente, ora bolas!
Onde foram parar meus mais de trinta textos diários? Em que penas eles pousaram? Em que folhas brancas mancham de vermelho os meus verbos suados?
Aridez completa das minhas horas. Não tenho o que dizer, nem como fazê-lo. As vivências não me chegam. Não me brotam os versos. Os brotos não dão flores, muito menos frutos, quem dirá sabores...
Quebro um copo na cozinha. Corto o dedo. No sangue que me esvai, a palavra que eu não tinha. Ai, ai, ai...
Deserto criativo. Criação sem cria. Até quando a aridez desse período de transição, que eu não sei pra onde e muito menos porquê?

Cortem a cabeça dela!

O que seria de Alice, caso os guardas-cartas-de-baralho a tivessem alcançado, cumprindo, assim, a ordem da Rainha de Copas? O que seria de nós, leitores vorazes das aventuras alheias?
E se a lua fosse feita, mesmo, de queijo? De onde teria saído tanto leite? Da Via Láctea, certamente. Nenhuma dúvida quanto a isso. Então... Cortem a minha cabeça!
E se meu coração falasse, ao invés do meu fusca, o que ele teria pra dizer? Absolutamente nada, suponho, além de um longo e claro gemido. Talvez até um gemido de adeus. Sem discursos intermináveis. Isso ele deixaria para alguns presidentes de países não tão distantes ou de entidades não tão confiáveis. Caso ele resolvesse falar qualquer vírgula a mais do que esse tal suspiro, seria perfeitamente possível que alguém, no meio da multidão, imediatamente, e não sem razão, gritasse: "Cortem a cabeça dela!", e teria eco imediato.
O que seria de nossos mendigos sem as calçadas frias para dormir? Sem o governo a lhes prometer um mundo de nadas, sem nossas cabeças pensantes a virar para o outro lado? O que diriam eles, se pudessem dizer, se pudessem ser ouvidos, se pudessem ser levados a sério, se tivessem vez? E se não têm nada disso, deve ser porque, algum dia, alguém foi atendido ao gritar: "Cortem as cabeças deles!".
O que seria do nosso país inteiro, sem os escândalos envolvendo as chamadas celebridades, os questionamentos sobre a masculinidade deste, daquele ou daquele outro, quem ficou com quem na festa de anteontem, e na de ontem, e na de hoje, e na que está a acontecer agora, e na que ainda acontecerá em seguida, ou no ano que vem? Quem teve filho de quem, quem dormiu com quem e quem usou essa posição, essa calcinha, essa samba canção; quem vestiu a roupa da grife tal, quem siliconou mais uma parte do corpo, que tatuagem ocupou maior espaço na pele, com quantos piercings se faz um bom sexo, com quantos papelotes se perde a cabeça de vez?
O que seria do nosso país sem a violência absurda, sem a polícia bandida, sem os meios de comunicação que cortam aqui, cortam ali, cortam acolá e transmitem o que querem, quando querem a um deus-dará?
Afinal, quem se importa mesmo? O mais urgente, o que realmente interessa, é tudo isso que está aí: os escândalos, o futebol, a novela, a droga, a violência, a maledicência, a falta de informação, a informação fragmentada, a informação deletada, a informação manca, a informação formatada em forma de adaga. Pra quê? Ora, não seja ingênuo, caro e-leitor. Para cortar a sua cabeça, é claro, por que outro motivo seria? Nesse país de cartas de baralho, a Rainha de Copas já foi operária, e sabe muito bem da urgência de cortar a cabeça de quem digita números nas cabines e-leitoreiras (sim, eu sei a diferença, mas minha cabeça foi cortada há muito tempo, perdoem-me senhores e-leitores)!
CORTEM A CABEÇA DELES TODOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

sábado, 14 de junho de 2008

ABAIXO A LOUCURA!

A loucura deveria ser proibida, banida, eliminada, da face da terra. Só a lucidez teria livre trânsito. A previsibilidade seria bem-vinda e coisa de muito bom gosto. Nenhuma surpresa. Nenhum arroubo. Nenhuma mudança brusca de planos. Tudo cuidadosamente planejado. E cumprido, nos mínimos detalhes.
Quem insistisse em cometer loucuras, inclusive as de amor, seria exemplarmente punido com a masmorra eterna, pra não haver prováveis seguidores.
Em se eliminando a loucura, também as artes em geral, inclusive a música, a literatura e a poesia, estariam extintas,afinal, só os loucos se importam com tais manifestações. A eles, seria dado um prazo para redimir-se de seus erros. Um minuto. Tempo mais do que suficiente, e, pensando bem, até generoso, para qualquer um pensar, ponderaqr e chegar à única conclusão possível e permitida: a loucura é um estorvo; logo, deve ser suplantada pela lucidez completa.
Eu já fui absurdamente enlouquecida. Não vivi sem música. Vi poesia em tudo, inclusive num espirro, na dor, numa gargalhada, aperto de mão, comida farta ou parca, cheiro de canela, frase solta, lágrima, brisa suave, piada, falta de tempo, tempo de sobra, desilusão, ilusão, ódio, amor, comunhão. Já fiz sexo com amor e acreditei na amizade. Eu já fiquei encantada diante de uma escultura e já li três vezes, uma atrás da outra, o mesmo livro, só porque gostei! Já gastei noites inteiras conversando sobre li-te-ra-tu-ra! Sim, isso mesmo, LITERATURA! Ora, vejam! Tem coisa menos produtiva? E outras tantas noites falando de amenidades com um amigo. Amizade: a maior de todas as loucuras.
Um minuto. Tempo mais do que suficiente pra deixar de lado essa lista de coisas imprestáveis. Eu disse Imprestáveis, não Emprestáveis.
Sem loucura, com o mundo mais organizado, cordato e tranquilo, provavelmente a lucidez não se entediasse. O silêncio imperiasse e a vida,talvez, pudesse fazer algum sentido.
Então, ABAIXO A LOUCURA!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Só mais uma

Decidi. Hoje é meu último dia. Amanhã não existirei mais. Outra pessoa levantará da cama, em meu lugar. Estou exausta. Desisto, hoje, de ser quem eu fui até a presente data.
Sempre fui diferente. Sempre joguei limpo. Sempre fui sincera. Contei quem eu era. Nunca experimentei uma máscara. Não sei que peso elas têm (talvez até sejam confortáveis!). Pois cansei de não encontrar lugar pra mim. Cansei de ser diferente. Cansei de ser apenas quem eu era. E não serei mais.
Hoje é meu último dia. Amanhã não existirei mais. Amanhecerei mudada. Mascarada. Dissimulada. Fingida. Mentirosa. Assim pode até ser que eu tenha dificuldade de encontrar um lugar pra mim, posto estarem praticamente todos ocupados, mas serei apenas mais uma entre os milhares e milhares e milhares de outros seres com o dito perfil.
Não consegui pagar o preço altíssimo cobrado de quem não finge. Não tive meios de sobreviver sozinha. Não dormi bem, a despeito da minha consciência tranqüila. Não fui mais feliz por ser mais sincera. Não tive mais sorte por não mentir. Não respirei aliviada por estar com a cara limpa.
Máscaras. Hoje gastarei o dia escolhendo, separando e preparando um belo estoque de máscaras para todas as ocasiões. Ensaiarei as mentiras mais convincentes, os sorrisos mais cínicos e os mehores fingimentos da praça. Tive ótimos exemplos até agora. Sou inteligente (aliás, devo fingir burrice, também, a partir de amanhã, mas hoje ainda posso admitir esse traço pouco valorizado no mundo), e sei bem quais são as formas de mentir, enganar, ludibriar, iludir, dissimular e todos os verbos considerados mais sensacionais e muito usados por esse mundo das pessoas (de Deus é que não é).
Respirarei fundo, amanhã, e sairei à rua, com minhas máscaras tinindo de novas. Exibirei todas elas. Distribuirei falsidades de todas as formas, cores, jeitos e tamanhos. E dormirei, finalmente, em paz.
Hoje é meu último dia. Amanhã, no meu lugar, uma mentira andará pelas ruas e responderá quando chamarem o meu nome. Porque eu não existirei mais. Terei morrido, esta noite, de pura exaustão...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

ESCOLHAS

Não duvido das boas intenções de algumas pessoas, quando dizem querer me abrir os olhos pra isso, pra aquilo ou pra aquele outro jeito meu de ver/viver minha vida. Não duvido, absolutamente, mas questiono. Existe sempre o perigo de vampirismo. Daquelas pessoas que, de repente, acreditam ter todo poder sobre mim, que acreditam que eu deva fazer apenas o que elas consideram certo pra minha vida. Grande perigo.
Sob o pretexto de gostarem de ti, de te desejarem o bem, acabam organizando tuas coisas, teus momentos, tuas amizades, tuas prioridades, como se delas fossem. Se permitires um pequeno avanço, logo tomam conta de tudo, e, quando perceberes, não estás mais resolvendo tua vida sem consultá-las.
Não posso admitir esse tipo de invasão, por isso sou um tanto ríspida, às vezes. Sim, corro o risco de parecer antipática, e até de perder uma amizade que poderia ser bem legal. Prefiro isso a ficar atrelada a alguém que pensa ter as rédeas da minha vida, conduzindo-me por caminhos que não serão, certamente, os que eu escolheria.
Penso que seja sempre melhor errar por si mesmo, no máximo trocando idéia com alguém em quem realmente confio (que certamente não será qualquer pessoa), que deixar-me guiar pelos passos alheios. Não confio. Não gosto. Não aceito.
Pareço muito dura? Muito senhora de mim? Muito metida a sabe-tudo? Nada disso. Tenho plena consciência da minha pequenez e da interdependência necessária. No entanto, também tenho plena consciência de que ninguém pode saber mais da minha vida que eu mesma. Além disso, se e quando eu quebrar a cara, terá sido por mim mesma, pelas escolhas que eu fiz, por opção própria. E nunca de terceiros, sejam eles sangue do meu sangue, amigos bem intencionados ou pessoas que pensam que me conhecem, só porque sabem de algumas coisas da minha vida.
Sim, algumas pessoas ficam na torcida pra que tudo dê certo em nossas vidas. Isso é bom e aconselhável, inclusive bem-vindo. Mas só isso.
Tenho uma amiga muito querida que, diante de uma decisão que mudou toda a minha vida, há alguns anos, me disse: "Faz o que quiser, Si. Estarei do teu lado". Foi a maior prova de amizade que já tive na vida. E ela ficou do meu lado. Ali, firme. Se concordou, se não, se pensava que deveria ser diferente, não me disse na hora. Algum tempo depois me disse que não sabia se teria feito o mesmo que fiz. Mas achou que tinha que respeitar minha decisão, e o fez. E viu que foi bom pra mim. Na época, porém, restringiu-se a ficar do meu lado. Eu chorei. Ela segurou-me a mão. Eu tive medo. Ela segurou-me a mão. Eu quase desisti. Ela disse que, se eu desistisse, ela continuaria do meu lado.
Tenho tentado ser assim com meus outros amigos também. Falo o que penso, não posso deixar de fazê-lo, mas garanto que estarei ao lado deles, seja para o que for. Questão de respeito pelo outro, questão de confiança de que ele sabe o que é melhor pra ele, tanto quanto eu sei o que é melhor pra mim. E se há engano, então a gente dá a volta e começa tudo de novo. Quando dá. Quando não dá a gente faz de tudo pra consertar. Ou assume as consequências.
Penso que é assim que deve ser. É assim que a gente aprende. Com dor, ou sem ela. Mas sempre por nós mesmos.

domingo, 8 de junho de 2008

Santo engano

Tem gente que acredita ter A chave. Aquela que abre as portas do conhecimento. Abre não, escancara. A chave que possibilita que essa gente seja especial, de alguma forma. Então se auto-intitulam desbravadoras de caminhos. São pioneiras. Em tudo ou em alguma coisa, em especial. Mas são as primeiras. Nas próprias palavras, claro.
Repetem conceitos difundidos há anos e saem esbravejando tais 'novidades', como se o resto do mundo fosse ignorante o suficiente pra cair nessa. Mas alguns são. E endeusam os engodos. O que faz com que pareça que os primeiros estão certos, e eles, então, continuam sua trajetória de repetir palavras alheias como se deles fossem, de pregar descobertas alheias como se deles fossem, de proclamar profecias alheias como se deles fossem.
Então fico pensando que, se é assim com pessoas praticamente anônimas, como não será com os políticos desse país, cuja projeção é muito maior? O alcance das mentiras não pode sequer ser comparado! E a facilidade de enganar, mais ainda. Um povo que não sabe ler (veja bem que não estou me referindo à decodificação dos símbolos, mas dos significados), que não tem idéia do que seja uma crítica verdadeira, que não tem nem um tantinho assim de discernimento, não pode mesmo saber distinguir entre o que é bom ou não fazer na urna.
E aí, nesse meu país querido, as coisas são como são. Todo o mundo preocupado de quem é a Amazônia (assunto ressuscitado, aliás), enquanto há guerra no Rio de Janeiro (aquilo não pode ter outro nome), enquanto há gente morrendo de sede no Nordeste (quando todo o mundo sabe que resolver o problema é muito mais simples do que parece), enquanto há um tremendo caos instalado e formando craca em todo o território nacional, de toda sorte de crimes.
É nisso que dá acreditar que alguém tem A chave. E não apenas acreditar, mas colocar nas mãos dessa pessoa (ou pessoas) as razões todas da gente. Infelizmente.

sábado, 7 de junho de 2008

Sonho - uma crônica

Eu queria o direito de ser frágil. De não ser tão independente, de assumir que me dói essa independência pela qual, paradoxo dos paradoxos, luto todos os dias. Incansavelmente. E faço questão de manter.
No entanto, há em mim uma fragilidade abismal que, talvez, um dia, finalmente, me devore. Queria o direito de assumir que não sei sozinha. Que não consigo. Que não quero conseguir. Que não quero sequer tentar. Que não preciso sequer tentar.
Ser rocha, porto seguro, força e coragem, tem me desgastado tanto! Tem exigido tanto do que não tenho pra dar! Mas dou. Fabrico. Invento. Me viro. Rebolo. E todas as ações possíveis e imagináveis pra manter o que se chama, aparentemente, de segurança.
Tenho minhas próprias opiniões, ando de cabeça erguida, sou capaz de discutir qualquer assunto, troco lâmpada, gás de fogão, pinto parede, instalo chuveiro e, se facilitar, conserto encanamento. Interessam-me todas essas coisas. E também resolvo meus problemas sozinha. Decido sozinha minhas coisas. Quando muito triste, durmo. Quando arrasada demais, choro sozinha, de madrugada, pra ninguém ver, porque preciso ser forte. Porque preciso ser âncora. Porque os outros precisam de mim. Mas queria ter o direito de dizer que preciso de alguém que faça por mim, ou que, no mínimo, me ajude a fazer. Que me dê colo de vez em quando. Que esteja comigo, nem que seja em silêncio, mas ESTEJA ali, ao meu lado. Que não diga o que eu tenho que fazer, mas apóie minha decisão.
Ando cansada de não ter o direito de desabar. De dizer que preciso de ti, assim mesmo, muito simplesmente: EU PRECISO DE TI.
Só o que eu queria, hoje, aqui, era o direito de ser frágil. Ao menos uma vez.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sistema de Cotas

Porque esse meu jeito de ver nem sempre agrada...







Resolvi aderir ao sistema de cotas. Reservarei cotas de paciência aos que não entendem. Não entendem nada de nada. Nem querem entender. E pensam entender. E brigam pelo que consideram entendimento de algo que não chegou aos pés do que é entendimento de fato. Se disseres "alhos", ouvirão "bugalhos", e não adianta explicar que focinho de porco não é tomada. Ligarão no focinho do dito bichinho e o chutarão, quando a "coisa" não funcionar (bem a "coisa" pode ser qualquer "coisa", inclusive qualquer "coisa" que possa "consolar").
Haja cotas, haja paciência, haja haveres...
Pirandello já escreveu sobre isso, mas não vou me dar ao trabalho de transcrever as letras dele. Quem quiser, leia O Falecido Mattia Pascal, escrito em 1904 e mais atual que o hoje que rola nas mãos de muita gente por aí.
Reservarei cotas de sangue de barata para serem usadas por... mim! Segundo Kafka, funciona (Ah, esse foi um cara metido que escreveu um continho aqui e outro ali, mas que não representou absolutamente nada no âmbito da literatura mundial.. nadinha...).
Reservarei cotas de humildade. Tomarei algumas delas emprestadas, de vez em quando, só pra lembrar da minha própria pequenez; mas um número enorme estará disponível para pseudointelectualóides de plantão, desses que leram um ou dois livros, que reverenciam alguns nomes que se destacaram por algum motivo (se bom ou não, tanto faz pra essa gente, afinal não estão preocupados com História, mas com historietas), que vêem a face do mal em qualquer um que tenha opinião própria e que se arvoram em repetir frases feitas, como se fosse de sua autoria.
Reservarei um saco bem grande. Um saco de risadas. Esse, pra dividir com meus amigos. Sentaremos, tomaremos algo quente nos dias frios, algo fresco nos dias quentes, comeremos quitutes, jogaremos conversa fora, nos permitiremos ser leves e banais. Falaremos da vida, das alegrias, do céu - abarrotado de bons garotos, dos filmes que não vimos no fim de semana, dos livros que nos fizeram entender, da poesia que nos acompanha, independente dos olhares inviesados que recebemos. Riremos até que nos falte o ar. E o riso dividido nos acompanhará durante o sono.
Graças às benditas cotas.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

E a gente até acha...

E a gente acha que já viu tudo. E a gente acha que já disse tudo. E a gente acha que já sofreu tudo. E a gente acha que já não há mais nada pra viver. Pois eu digo e repito: há, sim.
Olha só, tem uma risada logo ali, depois da esquina, esperando pra grudar na tua boca. Tem uma desgraça logo ali, depois da esquina, esperando pra arrancar a tua bolsa. Tem uma lágrima logo ali, depois da esquina, esperando pra te declarar louca. Tem de tudo um pouco, ainda, pra se viver.
E a gente acha que já sorveu tudo. Nada... nem um décimo do que há pra sorver... Respira fundo. Tem muita fumaça pra encrencar teus pulmões. Respira fundo. Tem muita desgraça pra fazer do teu, dois corações. Respira fundo. Tem muita criança pra ser razão das tuas canções.
E a gente acha que já sentiu tudo. E pensa que o mundo não tem perigo de virar do avesso. Como, se a gente mesmo já não está mais do lado direito. Aliás, por favor, alguém me explique onde é que fica o lado direito, porque eu só tenho visto o meu outro, que não é nem o esquerdo nem o avesso, é um terceiro que eu nem sabia existir.
E a gente acha que já amou tudo. Que secou, deveras. Que deveras, já morreu. Nada. Logo ali, detrás do espelho, tem um doido como eu. Nada. Logo ali, depois da curva, tem um doido como eu. Nada, logo ali, depois do oceano, tem um humano como eu...
E a gente acha que foi o suficiente, e se declara independente pra tomar as decisões que julga acertadas pra lida e pras marretadas que se vai dar na vida. Nada. Interdependentes. Da posse da Amazônia dependemos. Da assinatura de jornal barato dependemos. Da alegria dos outros dependemos. Da desgraça dos outros dependemos. Da miséria dos outros dependemos. E fazemos carnaval.
E a gente acha que já viu tudo.
Nada...

domingo, 25 de maio de 2008

Morfeu tem medo de foguetório


5h48min.

Finalmente Morfeu dá as caras. Por onde andaria esse rapaz? Cada noite chega mais tarde, ou mais cedo de manhã, como queira. Ainda bem que, na sua ausência, a Inspiração me faz companhia. Sem ela, não sei o que seria...

Enfim, o Senhor do Sono chegou, me pegou no colo, me jogou na cama e, quando estava prestes a me possuir... um foguetório!!!!!!!!!!

Explico: moro próximo a uma capela e, se não me engano, hoje é dia de Santa Rita (nome do Bairro vizinho ao meu - eu moro bem na divisa...ai,ai). Daí o foguetório.

6 horas da matina e eu despertei de novo. O foguetório para Santa Rita afugentou Morfeu e eu fiquei sozinha, de novo. Bem, não exatamente sozinha, já que a Inspiração não me abandonou. Ficou brincando comigo, jogando versos soltos sobre minha cabeça insone, enquanto eu virava de um lado para o outro na cama quente, lutando contra o desejo de levantar e voltar a escrever.

É carma, eu acho. Inspiração não me abandona nem de dia, nem de noite, nem debaixo de foguetório seja para que santo for.

Morfeu, ao contrário, quer saber cada vez menos de mim.

Oh, vida cruel!

Chocolate


Acho que está faltando chocolate pra muita gente.

Eu, de jeito nenhum, fico sem o meu estoque. Garantido, sempre. Vivo beliscando um bombom. Uma barrinha aqui, outra barrinha ali, e eu nem me dou conta das agruras da vida. De vez em quando a tristeza bate à porta e pede passagem. Só deixo entrar se ela tiver trazido uma caixa (das grandes) de chocolate. Daí tudo bem, sei que sobreviverei.

A vontade é tamanha que inventei um jeito de comer inclusive no trabalho. Instituí o dia da surpresa. Que significa dia do chocolate. É uma festa pra gurizada... e pra mim... mas disso ninguém suspeita. Não contem, por favor...

Chocolate com pão, já comeram? Peguem uma barra daquelas grandes e cortem do tamanho de um pão de sanduíche e depois coloquem entre dois pães. Sanduíche de chocolate... hummmmmm... maravilhoso.

Chocolate com café, chocolate com queijo, chocolate com...amor...

Bem, nesse caso pode até acontecer uma overdose, partindo-se do princípio de que o chocolate estimula a produção de endorfina, e o amor também... então... não exagere no ... amor... deixe a maior parte para o chocolate... vale a pena, acredite!

Reforma Ortográfica

Essa coisa de reforma ortográfica está me tirando o sono. Ok, ok, meus queridos leitores sabem que não precisa de nada externo pra tirar-me o sono... ele SE tira sozinho; mas vamos combinar que essa história de hífen, substituição por dois erres, cai acento, cai trema, cai tudo, meu Deus!, é muito séria e pode definir meu jeito de escrever...
Estou arrepiada com isso tudo. Como é que vão começar a aparecer meus textos? CHEIOS DE ERROS! Afinal, aprendi a escrever no século passado! Terei que fazer um cursinho intensivo para me atualizar... E se eu não conseguir?
E as palavras que aceitam as duas grafias, tanto a portuguesa quanto a brasileira? Ai, ai... Tem um nó na minha cabeça, daqueles que dóem... (Ih... será que vai esse acento aí?).
Tenho mil perguntas e mil inseguranças a me rondar, dançando cirandas em volta de mim, enlouquecendo minhas mãos, que páram (ai, outro acento diferencial!) no ar cada vez que vão redigir alguma palavra do 'grupo de risco'. Que medo!
E agora José? (Será que Drummond pode ajudar? Ou seria melhor chamar Pessoa, partindo-se do princípio de que a questão é portuguesa, com certeza? A tal reforma adaptou a língua portuguesa à brasileira, ou a brasileira à portuguesa? Por quê?).
O fato é que a coisa aconteceu. Não tem mais volta. Toca ir em frente, adaptar-se e cuidar pra não escrever oficina com ph....
Seria bom que essa tal reforma também facilitasse o visto dos brasileiros para os países Europeus, inclusive Portugal, não é não?

terça-feira, 20 de maio de 2008

Agora

Sempre é hora de... gritar. Sempre é hora de... perguntar. Sempre é hora de... agir. A hora é agora, sempre. Sempre é o instante que se esvai e não volta, nem que a gente murche. Sempre é o momento certo pra se dizer o que se quer diferente, o que se pode discernir. Sempre é agora, hoje, o momento mesmo em que tomo as rédeas dos meus vocábulos e faço deles o que quero dizer. Agora é o sempre sem saída. O beco onde residem todos os amanhãs que... talvez. É hora de degustar o frescor dos ventos de mudança. Inda que tímida, inda que solitária, mas sempre mudança. Sempre, de novo e sempre. Aqui, hoje, dessa forma. Porque grito não tem nome e não tem dono. Tem ouvinte. E participante.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

9 milhões e oitocentos mil Euros

Quantia exata, a mim oferecida via e-mail. Segundo o remetente da correspondência, pretenso advogado, seu cliente sofreu um acidente e deixou essa quantia PARA MIM! E o melhor de tudo: o morto era da ARGÉLIA!
Para receber esses trocadinhos eu só deveria mandar meus dados para o tal advogado e, em 20 dias úteis, eu já poderia ser considerada milionária. Ah! Ele avisou que, depois que recebesse meus dados, tornaria a escrever, para NEGOCIAR a porcentagem que lhe era devida, por seus serviços. Justíssimo, pensei eu.
Li e reli a mensagem e diverti-me a imaginar onde gastaria essa fortuna. Sim, porque dinheiro existe para ser gasto, certo?
Todos os meus problemas estariam resolvidos num passe de mágica. E que mágica!
Em 20 dias eu poderia ser a mulher cuja conta bancária jamais chegaria no vermelho. Cheque especial? Em breve eu esqueceria o que é isso.
Pensei na casa que eu daria para meus pais, nas viagens que faria com minha filha (uma volta ao mundo, não em 80 mas em 800 dias, sem a menor pressa), nos livros que publicaria (muitos, todos juntos - pagando bem, qualquer editora põe o teu livro no mercado). Ajudaria meus irmãos e sobrinhos. E, milagre dos milagres, seria a mulher mais disputada da região, para desposar.
Um ataque de riso me trouxe de volta à realidade. Olhei minha filha, que dormia serenamente. Ouvi os passos do meu pai, perambulando pela casa, como em todas as madrugadas. Pensei no valor do aluguel da casa onde moramos. No preço da escola de minha filha, nos ônibus lotados que tomamos, faça chuva ou faça sol, todo santo dia útil. Pensei no meu emprego,nas incomodações, nas frustrações, nas angústias e nas alegrias. Um frio percorreu-me a espinha quando lembrei da minha conta bancária. E das viagens que provavelmente jamais farei.
Levantei, cobri minha filha, beijei-lhe a testa amada. Agradeci.
Deletei a mensagem, única e exclusivamente por não saber que tipo de dados deveria enviar, se de plástico, de pano, de esponja, se com figuras, números, pontinhos...
NOTA: Tive necessidade de escrever a respeito devido ao grande número de mensagens desse teor, que têm chegado a mim, quase que diariamente. Já as consigo reconhecer, inclusive antes de abrir. Aliás, já recebi de tudo um pouco, desde aviso de corte de linha telefônica que eu nunca tive, até ameaças de morte e fotos de namorado beijando outra (essa eu até abri - poderia ser verdade! -, mas o anti-vírus não deixou...).
As mais freqüentes, no último mês, foram essas de herança ou de sorteio do endereço de e-mail, que me rendem milhões e milhões de Euros - sempre EUROS! - .
AH... SE FOSSE VERDADE.....

domingo, 18 de maio de 2008

Perguntas e respostas

Para 'Cabelinho' , com quem tenho aprendido
a ser cada vez mais perguntadeira...rs
As perguntas sempre martelaram e continuarão martelando na minha cabeça. Se fossem martelos de verdade, eu já estaria mortinha da silva, há muitos anos; sequer teria passado da infância! No entanto, cá estou eu, perguntadeira incorrigível.
Acontece que enfrento uma luta diária: minhas perguntas não aceitam qualquer resposta. Simples, guardam nelas um desejo de aprofundamento tão sério que, por vezes, me mete medo.
Quero saber tudo, mas quero, principalmente, perguntar e, com minhas perguntas, desacomodar a mim mesma. Preciso do movimento interior. Desse desassossego intenso e permanente, pra entender a vida e todas as suas complicadas relações.
Quero saber tudo. Porque as pessoas se sentem tão atraídas por notícias que relatam desgraças? Qual é a força que tem o sofrimento do outro, sobre aquele que acompanha o desenrolar de uma tragédia com tamanho interesse? As boas notícias não deveriam fazer bem? Quem se alimenta de sangue é vampiro ou assíduo acompanhante dos passos do mal? Ou talvez seja alguém que não tem nada de bom na vida, restando-lhe apenas o mal para nutrir-se dele? Porque é mais fácil emocionar-se com quem está longe, que com o vizinho de porta? Ou a própria família? Chorar dói menos que rir? É por isso que reza a lenda que o palhaço, quando não está no picadeiro, chora o tempo inteiro? Perguntas, perguntas, perguntas...
O aprofundamento das questões só produz outras perguntas. Nenhuma resposta, ainda que baseada firmemente em evidências, e provada, portanto, cientificamente, jamais será definitiva.
Acredito na construção diária, ainda que mínima. Afinal, o que parece mínimo pode ser o núcleo, mesmo, da questão (ou da resposta?).
Os pontos de interrogação andam comigo. Faço-os de leque, de bengala, de agasalho, de patinete. E às vezes provocam muita dor de cabeça. Enxaquecas terríveis, não queiram saber.
No entanto, cá estou eu, uma perguntadeira incorrigível.
Até que a morte me roube a resposta final.

sábado, 17 de maio de 2008

Nos chats da vida

Numa dessas madrugadas em que uma centelha de curiosidade ateia, de repente, fogo, à vontade de saber mais, aventurei-me num chat do Skype. Já estava com o programa aberto, conversando com um amigo muito querido, e entramos juntos na 'aventura' virtual.
Logo de cara fiquei impressionada com o nível de conversa da sala. Nove adultos. Eu e ele, mudos. Fiquei atônita. O papo girava em torno de alguma coisa a ver (não entendi direito) com um conhecido apresentador de televisão, na área esportiva.
Nove adultos. Ao notar a entrada de uma mulher na sala (mais uma, porque ali já estavam outras três, das quais apenas uma se manifestava), recebi as boas-vindas por parte dos dois homens mais falantes. Não estenderam essas boas-vindas ao meu acompanhante que também era novo no local e que, é claro, eles não sabiam estar comigo. Como não respondi por absoluta falta do que dizer (eu, extrovertida desde o ventre, perdi a fala), eles começaram a contar uma história de uma terceira pessoa do meio artístico, cujo nome é igual ao meu. Uma história sem pé nem cabeça. Riram muito. Dois homens adultos, procurando ser simpáticos, presumo, mas totalmente atrapalhados no intento.
Eu, e meu amigo, mudos.
Não conseguimos ficar ali por muito tempo. Fui sentindo um desconforto, uma sensação de estar num meio que não tinha nada a ver comigo, uma espécie de embrulho no estômago.
E aí ficaram várias perguntas, martelando na minha cabeça. O que leva um adulto a querer parecer o que não é? O que o faz acreditar que o importante é ser 'descolado' e fazer graça pra se aproximar de quem ainda não conhece? Porque essa necessidade de se esconder atrás do outro? Falar da vida alheia é mais fácil que falar da própria? (Claro, né?) É suficiente a superficialidade de algumas relações virtuais (vejam que não generalizei, até porque sei, por experiência própria, que o oposto também é verdadeiro)? Porque algumas pessoas precisam tanto mostrar que são algo que não são na realidade? Não gostam de si mesmas? Gostam o bastante pra não se expôr? Estão acostumadas a enganar e, por isso, o fazem tão tranqüilamente? Estavam tranqüilas, ou toda aquela familiaridade e 'descolamento' também faziam parte dos personagens atrás dos quais se escondiam as verdadeiras pessoas?
Mas há outra possibilidade. A de que eu esteja errada. A de que, talvez, eu seja formal demais, exigente demais, fora da realidade atual. Pode ser. Não descarto a hipótese. Porém...
Mesmo considerando que posso estar errada, ainda prefiro não fingir, falar da minha própria vida, dizer das coisas que eu gosto e que me fazem bem, perguntar do outro, saber do outro, do outro real, não do personagem. Ainda prefiro a velha e boa sinceridade. Para o bem ou para o mal.
Na próxima madrugada de curiosidade incendiada, tratarei de me 'aventurar' por outras paragens. Chats, em nove? Nunca mais!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!