sexta-feira, 13 de junho de 2008

Só mais uma

Decidi. Hoje é meu último dia. Amanhã não existirei mais. Outra pessoa levantará da cama, em meu lugar. Estou exausta. Desisto, hoje, de ser quem eu fui até a presente data.
Sempre fui diferente. Sempre joguei limpo. Sempre fui sincera. Contei quem eu era. Nunca experimentei uma máscara. Não sei que peso elas têm (talvez até sejam confortáveis!). Pois cansei de não encontrar lugar pra mim. Cansei de ser diferente. Cansei de ser apenas quem eu era. E não serei mais.
Hoje é meu último dia. Amanhã não existirei mais. Amanhecerei mudada. Mascarada. Dissimulada. Fingida. Mentirosa. Assim pode até ser que eu tenha dificuldade de encontrar um lugar pra mim, posto estarem praticamente todos ocupados, mas serei apenas mais uma entre os milhares e milhares e milhares de outros seres com o dito perfil.
Não consegui pagar o preço altíssimo cobrado de quem não finge. Não tive meios de sobreviver sozinha. Não dormi bem, a despeito da minha consciência tranqüila. Não fui mais feliz por ser mais sincera. Não tive mais sorte por não mentir. Não respirei aliviada por estar com a cara limpa.
Máscaras. Hoje gastarei o dia escolhendo, separando e preparando um belo estoque de máscaras para todas as ocasiões. Ensaiarei as mentiras mais convincentes, os sorrisos mais cínicos e os mehores fingimentos da praça. Tive ótimos exemplos até agora. Sou inteligente (aliás, devo fingir burrice, também, a partir de amanhã, mas hoje ainda posso admitir esse traço pouco valorizado no mundo), e sei bem quais são as formas de mentir, enganar, ludibriar, iludir, dissimular e todos os verbos considerados mais sensacionais e muito usados por esse mundo das pessoas (de Deus é que não é).
Respirarei fundo, amanhã, e sairei à rua, com minhas máscaras tinindo de novas. Exibirei todas elas. Distribuirei falsidades de todas as formas, cores, jeitos e tamanhos. E dormirei, finalmente, em paz.
Hoje é meu último dia. Amanhã, no meu lugar, uma mentira andará pelas ruas e responderá quando chamarem o meu nome. Porque eu não existirei mais. Terei morrido, esta noite, de pura exaustão...