quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Das palavras

Alguém há de pronunciar a palavra derradeira, e então nada mais restará para se dizer. Divirto-me imaginando um mundo sem conceitos nem definições disto ou daquilo. Um olhar, então, deixaria claras todas as intenções.
Um olhar, um gesto, uma palavra. Ops! Eis-me aqui, a comprometer meu brinquedo! Palavras, não! Estou farta delas! Quero gestos e atitudes! Palavras enganam, ludibriam, iludem, provocam um sem número de mal entendidos. Quero distância delas!
Dicionario? De que me valem os sinônimos se o que ouço, leio, escrevo, digo, nada tem a ver com a verdade? Se o que sinto não pode ser descrito, se minha dor é maior que sua definição, se me perseguem as contradições e os enganos me tonteiam?
Palavras são serpentes que se enroscam no tronco da árvore primeira, e trazem na boca uma maçã. Sedução. Engano. Dor.
Palavras são fronteiras não fiscalizadas, territórios sem lei, sem dono, sem dó nem piedade. Saem muito facilmente, aos borbotões; cachoeiras descontroladas, invadem espaços e povoam desertos. Provocam ataques de riso, acendem um brilho no olhar, enternecem corações aflitos, semeiam esperanças, roubam melodias. Esperam. Machucam. Separam. Repetem enganos.
Alguém, um dia, haverá de ter coragem para pronunciar a palavra derradeira.
E depois dela... shhhhhhhhhhh....
Escrito em 16.07.2004

Crônica sobre o saber

Cada vez mais me espanta a pequenez do que acredito saber. Para que se vai à escola, afinal? Para ter nossos horizontes abertos, ou para empunhar um diploma e obter, assim, maiores oportunidades ou chances no mercado de trabalho? O diploma-espada abrindo caminhos, rumo ao sucesso? Acredito que as duas respostas estejam corretas, mas minha especial preferência é pela primeira: Horizontes. Olhares além.
Estudo para passar de ano, conquistar o 'canudo' e, assim, aumentar meu salário e ter condições de oferecer uma vida menos difícil a quem amo. Até aí, tudo bem. O saber, no entando, transcende a nota da prova no fim do sementre, do conteúdo em questão. É um novelo de lã, uma bola de neve. Não se restringe ao estudo do conteúdo de sala de aula. Teia de aranha, enreda-se na minha vontade e inflama meu desejo de busca. E, quanto mais busco, tanto mais encontro, menos penso saber, tornando a buscar. Prendo meus membros, cada vez mais firmemente, na teia que se agiganta diante e dentro de mim.
E questiono tudo. E nunca me dou por satisfeita. Patino, no eterno começo. Ser humano, altero minhas posturas, lapido minhas escolhas. Aprender e desaprender tem igual importância. Reconstruo. Destruo. Aperfeiçoo. Moldo. Cresço e, nesse processo, torno a ser criança e a ter consciência de que há tanto por fazer!
Objeto do meu desejo, o conhecimento está por toda parte. Me rodeia. Me encanta. Me seduz. Encontro com ele na letra da minha canção preferida, na conversa simples com a atendente da loja de vídeo, na conversa profunda com a irmã que admiro, na crítica da professora que respeito, nas páginas dos livros que leio, na convivência com os que me são caros, na troca com meus diferentes...
E nucna alcanço nenhuma conclusão; nenhuma resposta definitiva. E acredito fascinante cada passo desse caminho. Longo caminho; afinal, o horizonte está sempre adiante, convidando que se vá em frente. É além dele qu se esconde o pleno conhecimento.
Minha bagagem é leve. Viajo...
Escrito em 06.07.2004