quarta-feira, 11 de junho de 2008

ESCOLHAS

Não duvido das boas intenções de algumas pessoas, quando dizem querer me abrir os olhos pra isso, pra aquilo ou pra aquele outro jeito meu de ver/viver minha vida. Não duvido, absolutamente, mas questiono. Existe sempre o perigo de vampirismo. Daquelas pessoas que, de repente, acreditam ter todo poder sobre mim, que acreditam que eu deva fazer apenas o que elas consideram certo pra minha vida. Grande perigo.
Sob o pretexto de gostarem de ti, de te desejarem o bem, acabam organizando tuas coisas, teus momentos, tuas amizades, tuas prioridades, como se delas fossem. Se permitires um pequeno avanço, logo tomam conta de tudo, e, quando perceberes, não estás mais resolvendo tua vida sem consultá-las.
Não posso admitir esse tipo de invasão, por isso sou um tanto ríspida, às vezes. Sim, corro o risco de parecer antipática, e até de perder uma amizade que poderia ser bem legal. Prefiro isso a ficar atrelada a alguém que pensa ter as rédeas da minha vida, conduzindo-me por caminhos que não serão, certamente, os que eu escolheria.
Penso que seja sempre melhor errar por si mesmo, no máximo trocando idéia com alguém em quem realmente confio (que certamente não será qualquer pessoa), que deixar-me guiar pelos passos alheios. Não confio. Não gosto. Não aceito.
Pareço muito dura? Muito senhora de mim? Muito metida a sabe-tudo? Nada disso. Tenho plena consciência da minha pequenez e da interdependência necessária. No entanto, também tenho plena consciência de que ninguém pode saber mais da minha vida que eu mesma. Além disso, se e quando eu quebrar a cara, terá sido por mim mesma, pelas escolhas que eu fiz, por opção própria. E nunca de terceiros, sejam eles sangue do meu sangue, amigos bem intencionados ou pessoas que pensam que me conhecem, só porque sabem de algumas coisas da minha vida.
Sim, algumas pessoas ficam na torcida pra que tudo dê certo em nossas vidas. Isso é bom e aconselhável, inclusive bem-vindo. Mas só isso.
Tenho uma amiga muito querida que, diante de uma decisão que mudou toda a minha vida, há alguns anos, me disse: "Faz o que quiser, Si. Estarei do teu lado". Foi a maior prova de amizade que já tive na vida. E ela ficou do meu lado. Ali, firme. Se concordou, se não, se pensava que deveria ser diferente, não me disse na hora. Algum tempo depois me disse que não sabia se teria feito o mesmo que fiz. Mas achou que tinha que respeitar minha decisão, e o fez. E viu que foi bom pra mim. Na época, porém, restringiu-se a ficar do meu lado. Eu chorei. Ela segurou-me a mão. Eu tive medo. Ela segurou-me a mão. Eu quase desisti. Ela disse que, se eu desistisse, ela continuaria do meu lado.
Tenho tentado ser assim com meus outros amigos também. Falo o que penso, não posso deixar de fazê-lo, mas garanto que estarei ao lado deles, seja para o que for. Questão de respeito pelo outro, questão de confiança de que ele sabe o que é melhor pra ele, tanto quanto eu sei o que é melhor pra mim. E se há engano, então a gente dá a volta e começa tudo de novo. Quando dá. Quando não dá a gente faz de tudo pra consertar. Ou assume as consequências.
Penso que é assim que deve ser. É assim que a gente aprende. Com dor, ou sem ela. Mas sempre por nós mesmos.