segunda-feira, 26 de maio de 2008

E a gente até acha...

E a gente acha que já viu tudo. E a gente acha que já disse tudo. E a gente acha que já sofreu tudo. E a gente acha que já não há mais nada pra viver. Pois eu digo e repito: há, sim.
Olha só, tem uma risada logo ali, depois da esquina, esperando pra grudar na tua boca. Tem uma desgraça logo ali, depois da esquina, esperando pra arrancar a tua bolsa. Tem uma lágrima logo ali, depois da esquina, esperando pra te declarar louca. Tem de tudo um pouco, ainda, pra se viver.
E a gente acha que já sorveu tudo. Nada... nem um décimo do que há pra sorver... Respira fundo. Tem muita fumaça pra encrencar teus pulmões. Respira fundo. Tem muita desgraça pra fazer do teu, dois corações. Respira fundo. Tem muita criança pra ser razão das tuas canções.
E a gente acha que já sentiu tudo. E pensa que o mundo não tem perigo de virar do avesso. Como, se a gente mesmo já não está mais do lado direito. Aliás, por favor, alguém me explique onde é que fica o lado direito, porque eu só tenho visto o meu outro, que não é nem o esquerdo nem o avesso, é um terceiro que eu nem sabia existir.
E a gente acha que já amou tudo. Que secou, deveras. Que deveras, já morreu. Nada. Logo ali, detrás do espelho, tem um doido como eu. Nada. Logo ali, depois da curva, tem um doido como eu. Nada, logo ali, depois do oceano, tem um humano como eu...
E a gente acha que foi o suficiente, e se declara independente pra tomar as decisões que julga acertadas pra lida e pras marretadas que se vai dar na vida. Nada. Interdependentes. Da posse da Amazônia dependemos. Da assinatura de jornal barato dependemos. Da alegria dos outros dependemos. Da desgraça dos outros dependemos. Da miséria dos outros dependemos. E fazemos carnaval.
E a gente acha que já viu tudo.
Nada...