quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tudo o que aprendi com meus ex (Capítulo II)*

Cosmólogo. Caiu no meu colo, feito estrela cadente. Tudo bem que, depois, voltou para a constelação de origem; deixou, porém, nas minhas saias, poeira de estrelas.
Cheguei à idade adulta sem saber que as estrelas são coloridas! Vergonha admitir uma coisa dessas, eu sei. Tão simples! Em qualquer Revista Superinteressante eu teria encontrado essa informação. Acontece que enxergamos apenas o que nos interessa, ainda que sempre tenha estado diante do nosso nariz. Pois pra mim as estrelas eram aquelas pontinhas brilhantes, prateadas, que estão sempre lá, mas que só aparecem de noite, porque o sol permite, pra elas não se sentirem deixadas de lado.
Impossível descrever meu espanto, quando ele me disse que as estrelas tem as cores do arco-íris! UAU! Fiquei tão emocionada, que chorei (ele chorou também; hoje penso que foi por ter descoberto o tamanho da minha burrice).
Era início de ano, possível ver direitinho o céu estrelado, quase todas as noites. Ficávamos horas, ele tentando me mostrar as constelações, e eu tentando vê-las (não consigo, até hoje, vislumbrar aquelas formas todas, mas acho o máximo saber que alguém consegue). Pura magia.
Comecei a pesquisar, feito doida. Poemas e canções  (tem um mundo, sabias? uma mais linda que a outra!) sobre estrelas, matérias sobre estrelas, as super novas, as mortas qu'inda brilham (como a lembrança que guardamos dos que nos foram caros; foram, mas o brilho permanece indefinidamente), as distâncias, a forma arredondada.
Levei para meus alunos e para minhas colegas. Baseei todo o meu trabalho de alfabetização no tema (mas isso é assunto para o blog sobre minhas práticas pedagógicas pouco convencionais). Minha turma de primeiro ano ensinou tudo o que sabia às turmas de quinta e oitava séries, e enfeitamos a escola, com estrelas de papel, redondinhas e coloridas, como as reais.


Muitos anos depois, as estrelas (as vivas, as recém mortas e as mortas há séculos) ainda estão lá, colorindo minhas insones madrugadas. A importância disso tudo brilha numa delas. Com certeza.





** Os capítulos não obedecem ordem cronológica

Tudo o que aprendi com meus ex (Capítulo I)*

Eu tinha um computador, comprado com o maior sacrifício. Ele tinha uma gráfica, e vivia grudado nos computadores. Nos finais de semana eu ia pra lá (na cidade vizinha), e mais acompanhava o trabalho dele, que namorava...
Algumas coisas a gente não faz ideia, no exato instante em que acontecem, do quanto nos serão úteis. Lembro que, na época, eu me sentia deixada de lado, ainda que essa não fosse a realidade. Ele trabalhando, eu jogando.
Em casa, meu IBM Aptiva servia só pra digitar meus trabalhos da faculdade e jogar Paciência. Era, basicamente, uma máquina de escrever, bonitinha. Internet? Que bicho é esse? É de comer? É de vestir? Como se pronuncia?
Pois foi com ele que aprendi que computador tinha outros joguinhos, também (!). E me apaixonei por Mahjong. Ficava horas jogando, enquanto ele trabalhava.
Aos poucos, com o incentivo e quase exigência dele, me atrevi a fazer outras descobertas. Ele fez  a besteira de dizer que eu poderia fuçar à vontade, já que não era bem assim pra estragar um computador. Ensinou-me a navegar, coisa que eu, então, achei a maior idiotice da face da terra. Todo empolgado, tentava me mostrar a quantidade de informações que estavam disponíveis a quem tivesse vontade de acessá-las, e paciência suficiente pra suportar as constantes quedas (Internet discada, lembram?), e aquele barulhinho insuportável de antes de conectar: um misto de chiados e zumbidos altos, depois da discagem. Odiei, mas como boa namorada queridinha que sempre fui (eu sou um amor, juro!), ouvia tudo e tentava entender. Valia a pena.
Comecei a explorar meu IBM. Já não me era suficiente o Word. Queria mais. Paciência perdeu a graça; Mahjong perdeu a graça. Já não me era suficiente limitar-me aos programas do meu computador e seus 8MB de memória (O que? Era um monte, tá?).
E de repente, num piscar de olhos, eu era uma pessoa conectada com  o mundo!
Os dias eram outros.
Meu velho IBM foi doado (... se revoltou, tadinho. Não suportava tanta informação...).
Eu continuei conectada, até hoje.

O namorado? Passou... Mas a herança foi boa. Ô!




* Um Capítulo pra cada aprendizagem, o que não é o mesmo que número de namorados, atentem.
** A série pode ser tão longa, que vire livro...hehe... talvez...rs