quinta-feira, 3 de julho de 2008

Palavra

Palavra é asa. Depois de proferida, voa e assume outras formas. Vira exatamente o oposto do que foi dito inicialmente. Vira magia ou sentença, dependendo de quem a cace, de quem a pesque, de quem a acenda.
Palavra é entendida além do significado estreitante. Tem mil sentidos, dependendo de quem a ouve, dependendo de quem a lê. Depois de plantada na folha, ai!, que dor que dá na gente, ver a palavra crescer e partir pra vida dela. A própria vida, independente de nós, seus primeiros sopradores.
As dores, as delícias, os sabores, tudo isso a palavra carrega consigo. Carrega inclusive os silêncios... shhhhhh....
Palavra é maldita até quando não nasceu pra ser. E assume ares de santa quando dita na hora exata, inda que seja na cama de um parceiro que nem se conhece, que mal se vê. Mas é bendita, então. Bem dita.
Palavra é religião. É sonho desfeito. É descrição de coisa séria ou engraçada. É companhia. É companheira. É salvação.
Palavra é coisa rara. Às vezes é manca, rasa, outras vezes é falsa, rasa, e outras tantas é copiada de terceiros, porque os primeiros não tiveram capacidade de dizer. Foram rasos. Voaram raso. Rastrearam a a palavra do outro. Rasuraram palavra alheia.
Palavra é invento sagrado. É pensamento concreto. É presente embrulhado em papel amassado, mil vezes lido, decorado. Palavra é o que não se deve prever. Porque, quando se diz, ela ganha asas, voa, e vira exatamente o oposto do que se pretendeu dizer...


Aos 35 minutos do dia 03.07.2008
*Porque a gente entende só o que quer entender... Ainda que o outro não tenha dito nada daquilo... A palavra tem asas... Deve ser...