sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Acompanhantes de Luxo

Já escrevi aqui sobre os e-mails que recebi, dizendo que eu teria ficado trilionária, de uma hora pra outra, por conta de uma herança deixada por uma pessoa que eu jamais conheci, bastava que eu passasse todos os meus dados para o advogado do morto. Nada mais justo. Soubesse eu que tipo de dados (se de plástico, de paninho, ou o que), teria enviado. Como não sabia, deixei de ganhar milhões de euros. Paciência.
Eis que ultimamente minha caixa de correio tem ficado abarrotada de mensagens que me oferecem acompanhantes de luxo, de todas as formas, tipos, pesos, cores, sexos, e, imagino, sabores e cheiros. Mas quem disse que eu preciso de acompanhantes de luxo? Um só, bem chinfrim, já me seria suficiente! De luxo, nem imagino!
Como as tais mensagens não falam em nenhum preço específico, embora peçam o número do meu cartão de crédito, fico aqui pensando em termos de valores e na função específica de um acompanhante de luxo. Na verdade, eu precisaria de alguém baratinho, que me acompanhasse ao mercado, especialmente quando, na lista de compras, houvesse muitos ítens pesados. O acompanhante seria de grande utilidade para as minhas costas, afinal já não tenho 15 anos de idade, e, embora pretenda chegar aos 400, os meus 46 já não me permitem levantar todo o peso que aguento, nessas idas e vindas às compras.
Dito isto, fica claro que a parte do luxo não faz o menor sentido. Um acompanhante de smoking (claro que uma mulher não supriria minhas necessidades!), carregando minhas compras, chamaria muita atenção, o que iria contra as letras garrafais da mensagem: SIGILO ABSOLUTO. Ora, um smoking, de dia, no meio do mercadinho da esquina, e, ainda por cima, comigo, seria qualquer coisa, menos discreto!
O fato é que cansei desses e-mails. Nem leio mais. Não sei a razão de tanta insistência, mas ando pensando em responder. Vai que eles tenham um acompanhante mais normalzinho e, de preferência, por um precinho módico...

Motivação

Houve um tempo (os mais jovens não lembrarão, é claro; eram crianças, ainda, e estavam preocupados com bonecas e bolas de futebol) em que as palestras motivacionais estavam no auge. Eu gostava de todas elas. Fazia questão de assistir todas as que estivessem acontecendo por aqui. Saía delas renovada. Executava todos os exercícios sugeridos pelos palestrantes, verdadeiros animadores de platéia. Silvio Santos andava com medo de perder o cargo, segundo fiquei sabendo, de fontes fidedignas.
Acontece que, logo, logo, as tais palestras passaram de febre a vício. Em uma semana comecei a me dar conta de que o efeito escoava ralo abaixo, junto com a água do banho. Daí a necessidade de assistir a próxima. E se não tivesse nenhuma prevista, bah! Era um deus-nos-acuda! Até que houvesse outra, na cidade, eu ia mirrando, mirrando, mirrando, pra voltar a levantar só quando ganhasse outra injeção de "motivação".
Babaquices à parte, e tendo finalmente entendido que tudo isso não passava de uma grande besteira, mantive uma coisa que considerei muito importante, e que, desde então, me mantém segura do meu valor, independente do que pense o resto do mundo: meu ritual diário de beleza.
Não. Não tem a ver com pós compactos, máscaras de cílios ou batons desta ou daquela cor, apesar de eu gostar de tudo isso. Tem a ver com o que ninguém vê, que está muito abaixo da casca que a gente carrega, por mais bonita que ela possa parecer (ou não, mas isso é conversa pra outra hora). Falo da beleza que todos temos, da alma limpa, do coração puro, do bom caráter; coisas que deveriam ser normais mas que, infelizmente, são cada vez mais raras. Ora, essa beleza também tem que ser cuidada e alimentada e reforçada, todos os dias.
Depois que aprendi isso, posso até nem estar assim tão motivada pra fazer essa ou aquela atividade, ou até pra sair da cama em determinados dias, mas nunca mais esqueci que eu, apesar de qualquer coisa que possam dizer a meu respeito, tenho um valor muito particular, que ninguém, jamais, poderá tirar de mim.
Bom seria se todas as pessoas tivessem real consciência do seu valor.
O boom das palestras motivacionais se foi, e hoje eu não levantaria da cadeira pra participar desse tipo de encontro, mas a parte boa ficou. E é ela que carrego comigo. Vício, agora, só o de alimentar o que guardo que vale a pena, pra mim e para os que me cercam.
Motivação é um bichinho que mora dentro da gente e que precisa de cuidado. De ninguém mais, além de nós mesmos.