segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Vício

Não é preciso me conhecer profundamente pra saber que não suporto bêbados. Tenho pavor. Verdadeiro pânico. Não agüento. Mas atraio. Não sei a que santo agradecer. Eles me encontram. E chegam perto. Quando tenho pra onde fugir,ótimo. Só que, às vezes, não tenho escolha. Como hoje, no ônibus.
Uma porção de bancos vazios. Numa das paradas entraram dois bêbados. Com tanto lugar pra sentar, um deles ficou atrás de mim e o outro ao meu lado.
Comecei a ficar inquieta.
O de trás passava mal, fazia ânsia o tempo todo, e eu pensava: Meu Deus, daqui a pouco ele vomita na minha cabeça.
O que estava ao meu lado falava comigo sem parar. Eu não entendi uma única palavra do que a língua enrolada dele dizia, mas já estava ficando tonta com o bafo de cachaça. Pedi licença duas vezes, pra passar por ele e trocar de lugar. Não ouviu, não entendeu ou simplesmente não se dispôs a entender. Permaneceu esparramado onde estava, impedindo-me a passagem. Lá pelas tantas não agüentei mais. Passei por cima dele, literalmente, e fui sentar num dos bancos do fundo do ônibus.
Apesar da chuva, escancarei as janelas e respirei aliviada, pensando agora poder fazer o resto do trajeto em paz.
Doce ilusão.
Duas paradas adiante, o terceiro bêbado. Meu inferno astral estava completo.
Ao vê-lo cambaleante corredor adentro, quase me joguei pela janela aberta.
Decididamente, eu deveria ter ficado na cama, hoje. Um dia perfeito para descansar: chuva, ffrio, segunda-feira, férias. Qual fora mesmo o motivo que me tirara de dentro de casa? Ah, sim, a urgência de comprar porta-retratos e iscas para baratas. Compromissos INADIÁVEIS!
Pois o tal b~ebado sentou do outro lado do corredor, bem na minha direção. E me viu.
Meu sangue fervia. Era muito azar para só alguns minutos. Custava um vivente ter a tranqüilidade de deslocar-se de um lugar para outro, em um coletivo, sem maiores problemas, numa pacata cidade do Interior? Pelo visto, sim.
Então ele começou a cantar. A mim. (Alguém lá em cima não gosta de mim, de jeito nenhum...)
Desci dois pontos antes do meu destino. Ao virar a esquina, ainda vi o que passava mal pôr a cabeça pra fora da janela. Não preciso explicar o por quê.
Decididamente, eu não suporto bêbados.
Decididamente, os atraio.
Decididamente, hoje eu deveria ter ficado na cama.
19.01.2009 - 16h30min