sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sistema de Cotas

Porque esse meu jeito de ver nem sempre agrada...







Resolvi aderir ao sistema de cotas. Reservarei cotas de paciência aos que não entendem. Não entendem nada de nada. Nem querem entender. E pensam entender. E brigam pelo que consideram entendimento de algo que não chegou aos pés do que é entendimento de fato. Se disseres "alhos", ouvirão "bugalhos", e não adianta explicar que focinho de porco não é tomada. Ligarão no focinho do dito bichinho e o chutarão, quando a "coisa" não funcionar (bem a "coisa" pode ser qualquer "coisa", inclusive qualquer "coisa" que possa "consolar").
Haja cotas, haja paciência, haja haveres...
Pirandello já escreveu sobre isso, mas não vou me dar ao trabalho de transcrever as letras dele. Quem quiser, leia O Falecido Mattia Pascal, escrito em 1904 e mais atual que o hoje que rola nas mãos de muita gente por aí.
Reservarei cotas de sangue de barata para serem usadas por... mim! Segundo Kafka, funciona (Ah, esse foi um cara metido que escreveu um continho aqui e outro ali, mas que não representou absolutamente nada no âmbito da literatura mundial.. nadinha...).
Reservarei cotas de humildade. Tomarei algumas delas emprestadas, de vez em quando, só pra lembrar da minha própria pequenez; mas um número enorme estará disponível para pseudointelectualóides de plantão, desses que leram um ou dois livros, que reverenciam alguns nomes que se destacaram por algum motivo (se bom ou não, tanto faz pra essa gente, afinal não estão preocupados com História, mas com historietas), que vêem a face do mal em qualquer um que tenha opinião própria e que se arvoram em repetir frases feitas, como se fosse de sua autoria.
Reservarei um saco bem grande. Um saco de risadas. Esse, pra dividir com meus amigos. Sentaremos, tomaremos algo quente nos dias frios, algo fresco nos dias quentes, comeremos quitutes, jogaremos conversa fora, nos permitiremos ser leves e banais. Falaremos da vida, das alegrias, do céu - abarrotado de bons garotos, dos filmes que não vimos no fim de semana, dos livros que nos fizeram entender, da poesia que nos acompanha, independente dos olhares inviesados que recebemos. Riremos até que nos falte o ar. E o riso dividido nos acompanhará durante o sono.
Graças às benditas cotas.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

E a gente até acha...

E a gente acha que já viu tudo. E a gente acha que já disse tudo. E a gente acha que já sofreu tudo. E a gente acha que já não há mais nada pra viver. Pois eu digo e repito: há, sim.
Olha só, tem uma risada logo ali, depois da esquina, esperando pra grudar na tua boca. Tem uma desgraça logo ali, depois da esquina, esperando pra arrancar a tua bolsa. Tem uma lágrima logo ali, depois da esquina, esperando pra te declarar louca. Tem de tudo um pouco, ainda, pra se viver.
E a gente acha que já sorveu tudo. Nada... nem um décimo do que há pra sorver... Respira fundo. Tem muita fumaça pra encrencar teus pulmões. Respira fundo. Tem muita desgraça pra fazer do teu, dois corações. Respira fundo. Tem muita criança pra ser razão das tuas canções.
E a gente acha que já sentiu tudo. E pensa que o mundo não tem perigo de virar do avesso. Como, se a gente mesmo já não está mais do lado direito. Aliás, por favor, alguém me explique onde é que fica o lado direito, porque eu só tenho visto o meu outro, que não é nem o esquerdo nem o avesso, é um terceiro que eu nem sabia existir.
E a gente acha que já amou tudo. Que secou, deveras. Que deveras, já morreu. Nada. Logo ali, detrás do espelho, tem um doido como eu. Nada. Logo ali, depois da curva, tem um doido como eu. Nada, logo ali, depois do oceano, tem um humano como eu...
E a gente acha que foi o suficiente, e se declara independente pra tomar as decisões que julga acertadas pra lida e pras marretadas que se vai dar na vida. Nada. Interdependentes. Da posse da Amazônia dependemos. Da assinatura de jornal barato dependemos. Da alegria dos outros dependemos. Da desgraça dos outros dependemos. Da miséria dos outros dependemos. E fazemos carnaval.
E a gente acha que já viu tudo.
Nada...

domingo, 25 de maio de 2008

Morfeu tem medo de foguetório


5h48min.

Finalmente Morfeu dá as caras. Por onde andaria esse rapaz? Cada noite chega mais tarde, ou mais cedo de manhã, como queira. Ainda bem que, na sua ausência, a Inspiração me faz companhia. Sem ela, não sei o que seria...

Enfim, o Senhor do Sono chegou, me pegou no colo, me jogou na cama e, quando estava prestes a me possuir... um foguetório!!!!!!!!!!

Explico: moro próximo a uma capela e, se não me engano, hoje é dia de Santa Rita (nome do Bairro vizinho ao meu - eu moro bem na divisa...ai,ai). Daí o foguetório.

6 horas da matina e eu despertei de novo. O foguetório para Santa Rita afugentou Morfeu e eu fiquei sozinha, de novo. Bem, não exatamente sozinha, já que a Inspiração não me abandonou. Ficou brincando comigo, jogando versos soltos sobre minha cabeça insone, enquanto eu virava de um lado para o outro na cama quente, lutando contra o desejo de levantar e voltar a escrever.

É carma, eu acho. Inspiração não me abandona nem de dia, nem de noite, nem debaixo de foguetório seja para que santo for.

Morfeu, ao contrário, quer saber cada vez menos de mim.

Oh, vida cruel!

Chocolate


Acho que está faltando chocolate pra muita gente.

Eu, de jeito nenhum, fico sem o meu estoque. Garantido, sempre. Vivo beliscando um bombom. Uma barrinha aqui, outra barrinha ali, e eu nem me dou conta das agruras da vida. De vez em quando a tristeza bate à porta e pede passagem. Só deixo entrar se ela tiver trazido uma caixa (das grandes) de chocolate. Daí tudo bem, sei que sobreviverei.

A vontade é tamanha que inventei um jeito de comer inclusive no trabalho. Instituí o dia da surpresa. Que significa dia do chocolate. É uma festa pra gurizada... e pra mim... mas disso ninguém suspeita. Não contem, por favor...

Chocolate com pão, já comeram? Peguem uma barra daquelas grandes e cortem do tamanho de um pão de sanduíche e depois coloquem entre dois pães. Sanduíche de chocolate... hummmmmm... maravilhoso.

Chocolate com café, chocolate com queijo, chocolate com...amor...

Bem, nesse caso pode até acontecer uma overdose, partindo-se do princípio de que o chocolate estimula a produção de endorfina, e o amor também... então... não exagere no ... amor... deixe a maior parte para o chocolate... vale a pena, acredite!

Reforma Ortográfica

Essa coisa de reforma ortográfica está me tirando o sono. Ok, ok, meus queridos leitores sabem que não precisa de nada externo pra tirar-me o sono... ele SE tira sozinho; mas vamos combinar que essa história de hífen, substituição por dois erres, cai acento, cai trema, cai tudo, meu Deus!, é muito séria e pode definir meu jeito de escrever...
Estou arrepiada com isso tudo. Como é que vão começar a aparecer meus textos? CHEIOS DE ERROS! Afinal, aprendi a escrever no século passado! Terei que fazer um cursinho intensivo para me atualizar... E se eu não conseguir?
E as palavras que aceitam as duas grafias, tanto a portuguesa quanto a brasileira? Ai, ai... Tem um nó na minha cabeça, daqueles que dóem... (Ih... será que vai esse acento aí?).
Tenho mil perguntas e mil inseguranças a me rondar, dançando cirandas em volta de mim, enlouquecendo minhas mãos, que páram (ai, outro acento diferencial!) no ar cada vez que vão redigir alguma palavra do 'grupo de risco'. Que medo!
E agora José? (Será que Drummond pode ajudar? Ou seria melhor chamar Pessoa, partindo-se do princípio de que a questão é portuguesa, com certeza? A tal reforma adaptou a língua portuguesa à brasileira, ou a brasileira à portuguesa? Por quê?).
O fato é que a coisa aconteceu. Não tem mais volta. Toca ir em frente, adaptar-se e cuidar pra não escrever oficina com ph....
Seria bom que essa tal reforma também facilitasse o visto dos brasileiros para os países Europeus, inclusive Portugal, não é não?

terça-feira, 20 de maio de 2008

Agora

Sempre é hora de... gritar. Sempre é hora de... perguntar. Sempre é hora de... agir. A hora é agora, sempre. Sempre é o instante que se esvai e não volta, nem que a gente murche. Sempre é o momento certo pra se dizer o que se quer diferente, o que se pode discernir. Sempre é agora, hoje, o momento mesmo em que tomo as rédeas dos meus vocábulos e faço deles o que quero dizer. Agora é o sempre sem saída. O beco onde residem todos os amanhãs que... talvez. É hora de degustar o frescor dos ventos de mudança. Inda que tímida, inda que solitária, mas sempre mudança. Sempre, de novo e sempre. Aqui, hoje, dessa forma. Porque grito não tem nome e não tem dono. Tem ouvinte. E participante.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

9 milhões e oitocentos mil Euros

Quantia exata, a mim oferecida via e-mail. Segundo o remetente da correspondência, pretenso advogado, seu cliente sofreu um acidente e deixou essa quantia PARA MIM! E o melhor de tudo: o morto era da ARGÉLIA!
Para receber esses trocadinhos eu só deveria mandar meus dados para o tal advogado e, em 20 dias úteis, eu já poderia ser considerada milionária. Ah! Ele avisou que, depois que recebesse meus dados, tornaria a escrever, para NEGOCIAR a porcentagem que lhe era devida, por seus serviços. Justíssimo, pensei eu.
Li e reli a mensagem e diverti-me a imaginar onde gastaria essa fortuna. Sim, porque dinheiro existe para ser gasto, certo?
Todos os meus problemas estariam resolvidos num passe de mágica. E que mágica!
Em 20 dias eu poderia ser a mulher cuja conta bancária jamais chegaria no vermelho. Cheque especial? Em breve eu esqueceria o que é isso.
Pensei na casa que eu daria para meus pais, nas viagens que faria com minha filha (uma volta ao mundo, não em 80 mas em 800 dias, sem a menor pressa), nos livros que publicaria (muitos, todos juntos - pagando bem, qualquer editora põe o teu livro no mercado). Ajudaria meus irmãos e sobrinhos. E, milagre dos milagres, seria a mulher mais disputada da região, para desposar.
Um ataque de riso me trouxe de volta à realidade. Olhei minha filha, que dormia serenamente. Ouvi os passos do meu pai, perambulando pela casa, como em todas as madrugadas. Pensei no valor do aluguel da casa onde moramos. No preço da escola de minha filha, nos ônibus lotados que tomamos, faça chuva ou faça sol, todo santo dia útil. Pensei no meu emprego,nas incomodações, nas frustrações, nas angústias e nas alegrias. Um frio percorreu-me a espinha quando lembrei da minha conta bancária. E das viagens que provavelmente jamais farei.
Levantei, cobri minha filha, beijei-lhe a testa amada. Agradeci.
Deletei a mensagem, única e exclusivamente por não saber que tipo de dados deveria enviar, se de plástico, de pano, de esponja, se com figuras, números, pontinhos...
NOTA: Tive necessidade de escrever a respeito devido ao grande número de mensagens desse teor, que têm chegado a mim, quase que diariamente. Já as consigo reconhecer, inclusive antes de abrir. Aliás, já recebi de tudo um pouco, desde aviso de corte de linha telefônica que eu nunca tive, até ameaças de morte e fotos de namorado beijando outra (essa eu até abri - poderia ser verdade! -, mas o anti-vírus não deixou...).
As mais freqüentes, no último mês, foram essas de herança ou de sorteio do endereço de e-mail, que me rendem milhões e milhões de Euros - sempre EUROS! - .
AH... SE FOSSE VERDADE.....

domingo, 18 de maio de 2008

Perguntas e respostas

Para 'Cabelinho' , com quem tenho aprendido
a ser cada vez mais perguntadeira...rs
As perguntas sempre martelaram e continuarão martelando na minha cabeça. Se fossem martelos de verdade, eu já estaria mortinha da silva, há muitos anos; sequer teria passado da infância! No entanto, cá estou eu, perguntadeira incorrigível.
Acontece que enfrento uma luta diária: minhas perguntas não aceitam qualquer resposta. Simples, guardam nelas um desejo de aprofundamento tão sério que, por vezes, me mete medo.
Quero saber tudo, mas quero, principalmente, perguntar e, com minhas perguntas, desacomodar a mim mesma. Preciso do movimento interior. Desse desassossego intenso e permanente, pra entender a vida e todas as suas complicadas relações.
Quero saber tudo. Porque as pessoas se sentem tão atraídas por notícias que relatam desgraças? Qual é a força que tem o sofrimento do outro, sobre aquele que acompanha o desenrolar de uma tragédia com tamanho interesse? As boas notícias não deveriam fazer bem? Quem se alimenta de sangue é vampiro ou assíduo acompanhante dos passos do mal? Ou talvez seja alguém que não tem nada de bom na vida, restando-lhe apenas o mal para nutrir-se dele? Porque é mais fácil emocionar-se com quem está longe, que com o vizinho de porta? Ou a própria família? Chorar dói menos que rir? É por isso que reza a lenda que o palhaço, quando não está no picadeiro, chora o tempo inteiro? Perguntas, perguntas, perguntas...
O aprofundamento das questões só produz outras perguntas. Nenhuma resposta, ainda que baseada firmemente em evidências, e provada, portanto, cientificamente, jamais será definitiva.
Acredito na construção diária, ainda que mínima. Afinal, o que parece mínimo pode ser o núcleo, mesmo, da questão (ou da resposta?).
Os pontos de interrogação andam comigo. Faço-os de leque, de bengala, de agasalho, de patinete. E às vezes provocam muita dor de cabeça. Enxaquecas terríveis, não queiram saber.
No entanto, cá estou eu, uma perguntadeira incorrigível.
Até que a morte me roube a resposta final.

sábado, 17 de maio de 2008

Nos chats da vida

Numa dessas madrugadas em que uma centelha de curiosidade ateia, de repente, fogo, à vontade de saber mais, aventurei-me num chat do Skype. Já estava com o programa aberto, conversando com um amigo muito querido, e entramos juntos na 'aventura' virtual.
Logo de cara fiquei impressionada com o nível de conversa da sala. Nove adultos. Eu e ele, mudos. Fiquei atônita. O papo girava em torno de alguma coisa a ver (não entendi direito) com um conhecido apresentador de televisão, na área esportiva.
Nove adultos. Ao notar a entrada de uma mulher na sala (mais uma, porque ali já estavam outras três, das quais apenas uma se manifestava), recebi as boas-vindas por parte dos dois homens mais falantes. Não estenderam essas boas-vindas ao meu acompanhante que também era novo no local e que, é claro, eles não sabiam estar comigo. Como não respondi por absoluta falta do que dizer (eu, extrovertida desde o ventre, perdi a fala), eles começaram a contar uma história de uma terceira pessoa do meio artístico, cujo nome é igual ao meu. Uma história sem pé nem cabeça. Riram muito. Dois homens adultos, procurando ser simpáticos, presumo, mas totalmente atrapalhados no intento.
Eu, e meu amigo, mudos.
Não conseguimos ficar ali por muito tempo. Fui sentindo um desconforto, uma sensação de estar num meio que não tinha nada a ver comigo, uma espécie de embrulho no estômago.
E aí ficaram várias perguntas, martelando na minha cabeça. O que leva um adulto a querer parecer o que não é? O que o faz acreditar que o importante é ser 'descolado' e fazer graça pra se aproximar de quem ainda não conhece? Porque essa necessidade de se esconder atrás do outro? Falar da vida alheia é mais fácil que falar da própria? (Claro, né?) É suficiente a superficialidade de algumas relações virtuais (vejam que não generalizei, até porque sei, por experiência própria, que o oposto também é verdadeiro)? Porque algumas pessoas precisam tanto mostrar que são algo que não são na realidade? Não gostam de si mesmas? Gostam o bastante pra não se expôr? Estão acostumadas a enganar e, por isso, o fazem tão tranqüilamente? Estavam tranqüilas, ou toda aquela familiaridade e 'descolamento' também faziam parte dos personagens atrás dos quais se escondiam as verdadeiras pessoas?
Mas há outra possibilidade. A de que eu esteja errada. A de que, talvez, eu seja formal demais, exigente demais, fora da realidade atual. Pode ser. Não descarto a hipótese. Porém...
Mesmo considerando que posso estar errada, ainda prefiro não fingir, falar da minha própria vida, dizer das coisas que eu gosto e que me fazem bem, perguntar do outro, saber do outro, do outro real, não do personagem. Ainda prefiro a velha e boa sinceridade. Para o bem ou para o mal.
Na próxima madrugada de curiosidade incendiada, tratarei de me 'aventurar' por outras paragens. Chats, em nove? Nunca mais!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!