segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sofrer é perda de tempo

Tem muita gente que não sofre mais. Minha amiga, Regiane, é uma. Eu sou outra.

Não tenho mais paciência, e, confesso, nem tempo útil, pra ficar me derramando em dores, por algo que não tem volta. Amores existem pra serem livres, e é natural que, lá pelas tantas, um dos dois resolva alçar voo e conhecer outras paragens, sozinho. Ninguém gosta de ser aquele que ficou, é óbvio. Mas, daí a perder meses choramingando, ou mesmo dias, quebrando a cabeça à procura do que se fez de errado, querendo saber o que "ela tem que eu não tenho", porque ele não me amou o suficiente, porque eu não fui a primeira e inquestionável escolha dele, não, né? Foi-se o tempo...

Acontece que o sofrimento não se restringe às relações amorosas. Ele vem embutido nas preocupações do cotidiano, nas eventuais desavenças com amigos, na falta de dinheiro, na inconstância da vida. E é aí que eu aprendi a me agarrar: na inconstância de tudo. Lulu Santos, que eu adoro, cantaria: "Tudo o que se vê não é igual ao que a gente viu a um segundo; tudo muda, o tempo todo, no mundo!" e, se muda, com que cara a gente vai querer que as coisas não nos surpreendam? E se existem surpresas boas, porque não haveria as ruins? Não gostar é uma coisa. Sofrer é outra, bem diferente. Gastar tempo sofrendo é uma terceira, e é essa que eu cortei da minha vida. Chega.

Hoje, faço tudo o que estiver ao meu alcance, pras coisas darem certo. A minha parte está feita. E caprichadinha. Se não deu, paciência. Os olhos de fora querem ver como conformismo? Que seja. O fato é que me sinto mais feliz e bem resolvida, assim. Não preciso mais guardar mágoas, nem disfarçar os olhos inchados, nem recuperar o tempo que perdi, arrasada, porque isso ou aquilo não correu conforme eu pensara. Aos 45, descubro que nada é conforme o que se pensa. Absolutamente nada. E é muito mais comum as coisas darem errado, que certo, porque há inúmeras variáveis, qualquer que seja o assunto.

Não sou assim tão pessimista, embora já tenha sido menos. Apenas vejo tudo com outros olhos, hoje. Talvez eu tenha perdido, sim, uma parte importante de doçura, que já tive, ou o saltitante entusiasmo, que, durante longos anos, me foi característico. Ganhei, com essa perda. Ganhei um tempo precioso e um pé e meio, no chão (afinal, embora o entusiasmo não seja mais assim tão saltitante, ainda me habita), desde que decidi não sofrer mais. Nem por mim (porque sou maior e melhor que qualquer motivo que me provoque dor), nem por ninguém.

Eu disse, outro dia, e repito, cada vez mais consciente de que isso é verdadeiro, sim, pra minha vida: O que não me mata, não me deixa mais forte; me deixa invencível.

Tem gente que não sofre mais. Eu sou essa gente.

Um comentário:

Nefasto Curvatório disse...

Talvez eu aprenda alguma coisa com tudo isso que voce escreveu hoje aqui. Tenho em minha mente uma frase do Homer Simpsons, que após ser passado pra trás pela Tv, ele beija a Tv e diz: - Eu não aprendi nada...rs... Mas fico feliz por amarmos filosofia, porque experiencias não ensinam, mas reflexões sim.. quantas vezes erramos e sofremos pelos mesmos motivos, mas quando se faz isso que voce faz, refletir e chegar às conclusões por si mesma, eis que aprende alguma coisa.